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Fiéis assistem missa celebrada pelo |
Salvador – O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal-arcebispo de Salvador dom Geraldo Majella Agnelo, comentou logo após saber da morte do papa João Paulo II, ontem à tarde, que os brasileiros se sentem ?órfãos? pela perda de um verdadeiro pai de toda a igreja. ?Ainda que esperada pelo seu estado de saúde que decaiu muito nos últimos tempos, sentimos muito sua morte?.
Dom Geraldo Majella Agnelo comunicou oficialmente aos baianos o falecimento através da Rádio Excelsior da Bahia (a rádio da arquidiocese) que estava transmitindo o jogo Vitória x Ipitanga pelas semifinais do Campeonato Baiano. A transmissão foi interrompida para o pronunciamento do cardeal que estava com a voz grave e emocionada. ?Pedimos a Deus que o receba junto de si e lhe dê a recompensa pelo bem que ele procurou fazer com tanto amor durante a sua vida?, disse. D. Geraldo celebrou na noite de ontem na Catedral Basílica uma missa pela alma do papa, com a presença do governador da Bahia Paulo Souto (PFL).
Suspensa
Dom Geraldo anunciou que está suspensa a 43.ª Assembléia dos Bispos do Brasil, que aconteceria na próxima quarta-feira em Itaici, interior de São Paulo, por causa da morte do papa. Dom Geraldo segue na segunda-feira para o Vaticano, para as homenagens póstumas a João Paulo II, também marcadas para a próxima quarta-feira.
O cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, segue para Roma entre hoje e amanhã. Ele vai assistir o funeral de João Paulo II e participar do conclave que escolherá um novo papa. Dom Claudio Hummes recebeu a notícia da morte do papa pelos jornalistas, depois da missa celebrada na Catedral da Sé, no centro da cidade, dedicada a João Paulo II. O cardeal falou sobre o exemplo deixado pelo pontífice e a eleição do novo papa.
?A história anda. Esperamos que seja um bom tempo o que vem. Eu sinto como quem perdeu um pai, um amigo e um irmão. Um orientador muito sábio que sempre escutava os seus bispos?, afirma.
O conclave que escolherá o novo papa é composto de pelo menos 117 cardeais. Podem votar apenas aqueles com menos de 80 anos. Quatro brasileiros vão votar: dom Cláudio Hummes, dom Geraldo Majella Agnelo (cardeal de Salvador), dom José Freire Falcão (cardeal do Distrito Federal) e Dom Eusébio Oscar Scheid (cardeal do Rio de Janeiro).
Carinho pelo Brasil
O cardeal dom Cláudio Hummes ressaltou o apreço de João Paulo II pelo Brasil. ?Ele estava muito ligado ao Brasil. Tinha um carinho muito especial pelo Brasil.?
O papa João Paulo II, segundo Hummes, sempre reconheceu e destacou as semelhanças entre as lutas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na década de 70, com as do sindicato Solidariedade, na Polônia. O cardeal lembrou a carta do papa aos bispos sobre trabalho (Encíclica Laborem Exercens), lançada em 1981 com premissas para uma melhor relação entre capital e trabalho.
Lula decreta luto e pensa ir a Roma
Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ir aos funerais do papa João Paulo II, informaram ontem funcionários do Palácio do Planalto. A viagem, porém, ainda não está definida. Ainda ontem, o presidente decretou luto oficial por sete dias e mandou divulgar a seguinte mensagem:
?A morte do papa João Paulo II entristece profundamente o povo brasileiro, que tinha pelo santo padre grande afeto. Suas visitas ao Brasil serão sempre recordadas com viva emoção. A canção ?João de Deus?, entoada espontaneamente pelo povo brasileiro, expressou esta relação de carinho e respeito.
Até o final da vida, João Paulo II conduziu sua missão com energia e lucidez. O sofrimento que não escondia, nos últimos anos, jamais alterou sua determinação. Em 26 anos de peregrinação às mais diferentes regiões do planeta, o papa criou uma obra rica e multifacetada, reforçando a esperança de um mundo de justiça e liberdade. Sua liderança espiritual espelhou-se na luta incansável em prol da dignidade da pessoa humana; na busca do diálogo entre culturas e religiões; na posição corajosa em favor da paz e do direito; e no grande empenho em eliminar a marginalização social e econômica de indivíduos e nações.
Maior País católico do mundo, onde convivem harmonicamente pessoas de variadas crenças, o Brasil se sente compungido pela perda de um dos homens que, como poucos, influiu de forma marcante e positiva, no curso da história contemporânea?.
Carta de Lula
O Ministério das Relações Exteriores divulgou ontem mensagem do ministro Celso Amorim por ocasião do falecimento do papa João Paulo 2.º. O chanceler brasileiro endossa as palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lembra que ele foi portador de carta de Lula ao papa, na tentativa de evitar a atual invasão americana ao Iraque:
?Associo-me às palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em nome do povo brasileiro, manifestou profunda tristeza e pesar pelo falecimento do papa João Paulo II. Tive a honrosa incumbência de ser portador de carta do presidente Lula a sua santidade, no contexto dos esforços internacionais para evitar o conflito no Iraque. Sempre recordarei a atenção com que o papa João Paulo II me recebeu…?
Aparecida reza e chora pelo papa morto
Aparecida – ?O papa é um grande estímulo para nós, em especial para o santuário pois ele sempre demonstrou amor e devoção à Nossa Senhora Aparecida.? Com esta frase o reitor do Santuário Nacional de Aparecida, padre Joércio Gonçalves Pereira, resumiu a relevância do papa para os devotos da padroeira do Brasil. Cerca de 30 mil fiéis seguiram ontem em romarias para o Santuário Nacional de Aparecida. As missas foram dedicadas a João Paulo II e entre os romeiros, as orações e a emoção eram comuns ao falar do papa.
?A gente reza para que ele não sofra e que seja feita a vontade de Deus?, dizia a professora Maria José Antunes, de Maringá, no Paraná, momentos antes de saber da morte do pontífice. Na capela do santíssimo e no altar central do Santuário, fotos do papa e orações. ?Impossível não chorar neste momento?, diziam os romeiros.
Um dos lugares mais visitados na manhã de ontem foi o museu onde estão alguns objetos usados pelo pontífice durante a visita à basílica em julho de 1980. ?Ao ver esta cadeira, fiquei imaginando o papa aqui e me emocionei bastante. Um sentimento que não dá pra explicar?, disse a devota Juventina da Silva.
O padre Carlos da Silva celebrou a missa das 8 horas. Depois da celebração Silva relembrou as visitas que fez ao papa. ?Eu estava lá quando ele foi nomeado pelo Vaticano.? O padre relembra todas as audiências que teve com o pontífice. ?Todas as vezes que estive com ele, João Paulo dizia sempre que estava no mundo para levar o mundo a Deus.? Com um trecho do evangelho o padre descreve a atuação de João Paulo. ?Ide e evangelizai pelo mundo inteiro. Ele cumpriu isso fielmente.? Depois da morte anunciada pelo Vaticano, o Santuário Nacional dedicou a missa das 19 horas, celebrada pelo arcebispo Dom Raymundo Damasceno, à alma de João Paulo.
Fiéis choram
Após o anúncio oficial da morte do papa, sinos de várias igrejas tocaram em várias cidades de Mato Grosso em sinal de luto. A mobilização dos católicos que rezaram pela melhora de seu estado de saúde continuará no fim de semana com a realização de missas em memória do pontífice.
?A gente espera que o seu substituto seja uma pessoa ungida assim como foi o papa João Paulo II?, disse o arcebispo de Cuiabá, d. Milton dos Santos. Na capital, durante todo o dia, mais de 500 pessoas rezaram pela saúde do papa no Memorial João Paulo II, localizado no bairro Morada do Ouro. No local, o papa celebrou uma missa durante visita a Cuiabá em 11 de outubro 1991. Projeto de autoria do deputado estadual Carlos Brito transformou o espaço num local de visitação pública com a construção da capela Santa Paulina.
