Alarmado com a alta do dólar, o presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a advertir hoje que a estabilidade econômica e a perspectiva de desenvolvimento podem se ?esboroar em poucos meses? se houver mudança de rumo e se não forem mantidos os avanços obtidos no País. Num dia em que o dólar atingiu o recorde, batendo em R$ 3,81, Fernando Henrique usou o discurso da solenidade de lançamento do programa de apoio ao agronegócio brasileiro para atacar a oposição e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que apóia o PT, e cobrar uma visão de longo prazo dos seus adversários.

Fazendo uma defesa enérgica do seu governo, o presidente disse que tem convicção de que o País não voltará a enfrentar, no futuro, as dificuldades que ele encontrou ?porque o Brasil terá maturidade para seguir rumo de um País que sabe o que custa o crescimento, o desenvolvimento econômico, o bem-estar da população e que sabe que essas conquistas têm de ser retomadas e refeitas no dia a dia, porque elas se esboroam depressa?.

A 12 dias das eleições e sob a ameaça de o PT vencer a eleição presidencial já no primeiro turno, o presidente fez questão de lembrar que o País já viu os seus esforços se perderem. ?E nós já vimos em mais de um momento esboroarem-se. Mas hoje nós temos muito mais experiência e consciência nacional de tal maneira de que tenho a convicção de o que foi feito veio para ficar?.

Fernando Henrique vem dando sinais de preocupação crescente com o comportamento do mercado financeiro. Em discursos hoje e ontem ele destacou que ?poucos meses? podem ser suficientes para trazer de volta inflação, perda de rumo e fim da estabilidade. Na semana passada admitiu não ter meios para conter a especulação. Nesta terça-feira, ele disse que a alta da moeda norte-americana ?não têm base na realidade, não tem nada a ver com economia real, com o estado das contas públicas e nem com a balança de contas do Brasil?. Para ele, essa alta ?tem a ver com outros fatores, de outra natureza, externos e internos, e que não estão ligados ao processo produtivo?.

Sem citar o nome do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique voltou a ironizar o uso, pelo partido, das imagens de obras e programas federais. ?Eu assisti no Pantanal as transformações que estão ocorrendo nesta área (agrícola). São transformações tão boas, que a oposição pôs na televisão hoje. Pôs na televisão como se fosse dela, que criticou o tempo todo, que não se fazia nada, que não se dava apoio nenhum. Agora, é glória. Tomara. A glória não é minha, é do Brasil, porque avançamos.?

Fernando Henrique avisou que o País ?tem capacidade de avançar ainda mais e até de praticamente reverter a nossa balança comercial em função dos grandes progressos da agricultura brasileira?.

Comemorando os resultados das exportações agrícolas, uma das principais bandeiras de todos os candidatos, o presidente afirmou que ?é só persistir que a famosa vulnerabilidade externa vai diminuindo?.

Para ele, o sucesso desses números, ?não se mantém com retórica se mantém com competência e trabalho, seriedade. Ninguém realiza avanços com palavras. Não se realiza avanços simplesmente com protestos, com reivindicações sem fim. É preciso que se tenha capacidade de processar essas reivindicações e que se encontre um caminho construtivo que leve a resultados, que não acontecem do dia para a noite?.

MST – Fernando Henrique condenou as invasões de terra e o apoio que setores da sociedade chegaram a dar a esse tipo de movimento. ?Hoje, haverá aqui ou ali uma invasão de terra, mas a sociedade já repudia isso. Houve momentos em que parecia ser que a sociedade estava sensibilizada e através de marchas e manifestos sem fim sitiavam o governo como se fosse o governo que não quisesse fazer a transformação na propriedade fundiária e não aqueles que atropelavam o processo em nome de ideais que eu não sei bem se eram propriamente o de ajudar os que não têm terra ou de atrapalhar o conjunto do país, visando um outro tipo de sociedade que não está ao alcance de ninguém nos doas que correm.?

Ao comemorar o fim do apoio de setores da sociedade distantes do campo à onda de invasões, o presidente comentou: ?Mas mesmo isso passou. Mesmo essa febre que parecia ter tomado conta de todos, que empolgava setores que nada tinham a ver com o campo? prosseguiu.

Em um recado aos que apóiam as invasões de terra, o presidente advertiu: ?não nos enganemos. Tranqüilidade se conquista com a democracia, pela perseverança, pelo diálogo, pelo esforço, pela seriedade, pela capacidade de dizer não e sim, quando é possível e também se esboroa rapidamente.?

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