São Paulo – O economista Heron do Carmo, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), acredita que a inflação de 2003 será menor que a de 2002. “O que está ficando claro pelas recentes medidas adotadas é que uma série de ajustes previstos para janeiro estão sendo antecipados pelo atual governo, que de certa forma está estendendo um tapete vermelho e estrelado para o próximo”, afirma.
Para o coordenador do IPC, o referencial para o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será tanto mais positivo quanto mais alta for a inflação deste ano, último do mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Apesar da pressão provocada pela subida do dólar recentemente, o economista acredita que a inflação já não será tão alta no início do governo Lula. “Poderemos até fechar janeiro do próximo ano com uma taxa de variação parecida com a de janeiro de 2002”.
Além dos aumentos antecipados, Heron vê outros fatores que contribuirão para a redução da inflação em 2003. Segundo ele, a estabilização cambial, a elevação dos juros e a perda do poder de compra causada pela recente alta inflacionária ajudarão a conter novas altas dos preços no próximo ano.
Em sua primeira viagem internacional depois das eleições, o presidente Fernando Henrique Cardoso procurou ontem em Portugal tranqüilizar autoridades e investidores estrangeiros ao avalizar o discurso do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de que contratos serão cumpridos e a responsabilidade fiscal será um compromisso do novo governo. Ao garantir ao primeiro-ministro português, José Manuel Durão Barroso, que tem “plena confiança” de que o governo Lula não reduzirá a presença brasileira no plano internacional, Fernando Henrique insistiu que o Brasil continuará sendo um país sério e de confiança a partir de primeiro de janeiro.
“Os que confiaram no Brasil confiaram num país que é sério, que respeita os seus contratos e que considera a inflação um flagelo. Não há possibilidade de quem quer que seja afastar-se desses compromissos”, disse o presidente. “A força das instituições democráticas e o clima de liberdade não permitiriam isso, e nem é esta a intenção do novo governo.”, garantiu. Fernando Henrique disse que o Brasil vive hoje uma outra etapa, mais avançada, de seu processo político e que a democracia não é mais uma luta no Brasil, mas uma espontaneidade. “Vim a Portugal certo de que deixo um País tranqüilo e tudo que dissermos hoje aqui vale para o futuro.” Tudo indica que Fernando Henrique foi convincente nas conversas com as autoridades portuguesas. O primeiro-ministro Durão Barroso manifestou também plena confiança de que o governo de Lula, com quem já conversou depois da eleição, dará atenção especial às relações entre os dois países. Ele elogiou a democracia brasileira, os “fundamentos sólidos” da economia do país e, especialmente, o processo de transição governamental promovido por Fernando Henrique.
“Tudo o que fizemos no governo Fernando Henrique Cardoso será possível fazer no futuro, porque a relação que existe entre nossos países é indestrutível”, disse Durão.
Um recado otimista para o exterior
Sintra
– No mesmo estilo adotado no comando da transição, no Brasil, o presidente Fernando Henrique Cardoso cuidou de abrir portas para o seu sucessor em Portugal. Ao transmitir uma mensagem de confiança sobre o futuro do Brasil a investidores estrangeiros, garantiu ontem que Lula manterá os compromissos internacionais, os contratos e o equilíbrio das contas públicas. FHC disse ainda que a responsabilidade fiscal será a “bússola” do governo Lula.O presidente também criticou os subsídios agrícolas dados por países da Comunidade Européia, como Portugal, e pelos Estados Unidos, o que prejudica as exportações brasileiras. Ressaltou , entretanto, que apesar dessas restrições, as exportações brasileiras e na Argentina estão crescendo. Para ele, o Brasil faz uma “luta tenaz” contra os subsídios agrícolas. Ele disse que nenhum governante brasileiro, seja ele quem for, poderá fugir dessa realidade porque seria cobrado pela própria população. Durante a reunião com o primeiro-ministro de Portugal, José Manuel Durão Barroso, FHC se comportou como um verdadeiro porta-voz do governo Lula. Mostrando estar afinado com Lula, Fernando Henrique disse: “Tudo que dissermos hoje vale para o futuro”.