Rio – O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem um alerta ao futuro governo para se preparar para enfrentar um denso nevoeiro. Segundo ele, estes seus oito anos de governo foram marcados por vários momentos nebulosos. “Enfrentei várias crises econômicas geradas em outros países”, citando as do México, da Ásia e da Rússia. Ele destacou ainda que o futuro governo terá que aceitar como regime básico a idéia de ser surpreendido com as crise por ele enfrentadas.
“Temos que nos acostumar que nos momentos turbulentos é que o futuro depende de processos que não estão sob o controle de governo, estado ou sociedade”. Para ele, hoje em dia, fatos considerados leves podem produzir efeitos imensos. “Nessa medida a economia se transforma em uma psicologia coletiva no sabor de célebres avaliações de riscos que podem desencadear processos que muitas vezes não tem a ver com os processos da economia”, disse se referindo às especulações que acontecem no mundo globalizado, que muitas vezes produzem efeitos de curto-circuito.
Ele destacou ainda que atualmente os governantes precisam acompanhar em tempo real todos os fatos do mundo e tentar prever o que esses fatos podem gerar. As declarações do presiente foram feitas durante uma palestra para os formandos dos cursos de Altos Estudos Militares, na Ilha de Villegaignon, no Rio de Janeiro. Ele também enfatizou que contribuiu, ao longo dos seus dois mandatos, para que o Brasil consolidasse a democracia.
De acordo com FHC, agora o país tem meios de encontrar os caminhos que possam levar ao crescimento econômico e se aproximar da obra de transformação social. Fernando Henrique apontou como avanços nos seus oito anos de governo a política de privatizações e as conquistas na área social, mas admitiu que é preciso avançar mais em relação ao Mercosul, o Mercado Comum do Sul, que reúne a Argentina, o Paraguai e o Uruguai como parceiros, além do Chile e da Bolívia, como membros convidados.
O presidente disse que atualmente se destaca a intensificação dos protestos e manifestações organizados pela chamada globalização. “São manifestações que em muitos casos se equivocam e dirigem artilharia contra alvos errados, mas que refletem a existência de um certo mal-estar com o processo de globalização”, afirmou. Para FHC, o quadro mundial mudou a partir de 11 de setembro de 2001, quando se colocou na agenda pública, “de forma incontornável” o problema do terrorismo internacional.
“De forma mais ampla, nos deparamos com um fenômeno, o de redes criminosas internacionais, caracterizadas por uma capacidade de ultrapassar fronteiras e os instrumentos fornecidos pelas novas tecnologias”, salientou. FHC disse que para a maioria das nações, as promessas de uma nova e mais justa ordem internacional deixam muito a desejar. O presidente citou como os princiapis problemas, o protecionismo comercial dos países mais ricos, que impedem os país ditos emergentes de fazer valer as vantagens comparativas nas trocas internacionais, ou, ainda, problemas com as turbulências financeiras que, segundo ele, tantas vezes têm limitado as chances de crescimento nos países em desenvolvimento.
“O Brasil tem sofrido os defeitos dessas assimetrias injustas e desses fatores de estabilidade, o que não nos impediu de darmos passos importantíssimo para o fortalecimento da nossa democracia e para levar adiante algumas das reformas que são indispensáveis para garantir a estabilidade econômica e para abrir melhores perspectivas de crescimento”, afirmou.