Brasília
– O presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu ontem, pela primeira vez, que a derrota de José Serra nas eleições presidenciais foi em decorrência do descontentamento popular com seu governo. FHC admitiu que a eleição foi um julgamento de seu governo. “Parcialmente é um julgamento, sim. Não posso negar”, disse o presidente.No entanto, Fernando Henrique procurou reduzir a importância deste julgamento, alegando que “tudo é relativo”, uma vez que o seu partido, o PSDB e os partidos que deram base a seu governo elegeram governadores nos estados mais populosos. Sobre o futuro, FHC pediu que os brasileiros sejam otimistas, afirmou que o caminho natural do PSDB é fazer oposição a Lula, já que o seu candidato não foi eleito.
O presidente que encerra oito anos de governo em dezembro pediu para o seu partido não fazer com Luiz Inácio Lula da Silva, o que o partido do presidente eleito, o PT, fez com o governo tucano. FHC disse que não gostaria de ver um clima de revanche entre os dois partidos durante o novo governo. “Eu espero que o PSDB não faça com o PT o que o PT fez comigo”, reclamou. “A oposição votava maciçamente contra o governo, mesmo que o projeto em discussão fosse bom para o país”, disse ele. “Mal terminavam as eleições, o PT dizia: Fora, FHC”, lembrou.
“Não podemos fazer oposição ao País. Temos de dar todas as chances para o novo governo mostrar a que veio”, disse. Ele disse que o PSDB vai fazer oposição, mas sem ser “destrutivo”. Fernando Henrique Cardoso aos brasileiros que não sigam o mito de que tudo no Brasil dá errado. “Tem muita coisa errada, mas não podemos sucumbir diante dessas coisas”, disse. Fazendo uma análise dos seus oito anos de governo, o presidente reconheceu que deixou de fazer reformas necessárias, como a política e a previdenciária. “Na previdência privada conseguimos alguma coisa, mas na pública não fizemos quase nada”, admitiu.
Sobre a pouca associação da sua imagem à campanha de José Serra, Fernando Henrique disse que “foi até melhor”. “O marketing da campanha achou que não era bom associar o candidato do PSDB ao meu governo. Acho que foi melhor, porque o meu governo poderia ter sido ainda mais atacado. Ainda bem que sou sociólogo e sei separar essas coisas do lado pessoal.”
Apesar da postura otimista e amigável com seu sucessor, Fernando Henrique não deixou de atacar, mais uma vez, as alianças feitas por Lula para chegar à presidência. “Sempre tem um toma lá dá cá. O PT fez aliança de todo o tipo, sem se importar com a ideologia dos partidos. Isso até me reconforta, já que fui atacado pela aliança que fiz com o PFL”, afirmou.
Ao ser perguntado sobre que conselho daria para Lula, FHC pediu que o petista “continue sendo como é”. “É difícil dar conselho a um presidente eleito, porque o povo já deu quando o elegeu. Como amigo, eu diria que ele deve ser fiel a si mesmo.” Nos agradecimentos finais, Fernando Henrique Cardoso colocou-se à disposição para outras entrevistas, já que não estará “mais tão ocupado daqui pra frente.”