Belo Horizonte – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que não acredita numa luta fratricida no PSDB em torno da candidatura presidencial em 2010, entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).
Em entrevista publicada ontem pelo jornal O Tempo, de Belo Horizonte, FHC afirmou que é ?possível? que o partido tenha um candidato de ?consenso? na próxima disputa pelo Palácio do Planalto. Disse ainda que ?não há a menor possibilidade? de Aécio deixar o PSDB para se candidatar por outra legenda. Mas, ao mesmo tempo, mandou um recado para o partido: ?O PSDB também precisa saber valorizar o Aécio, que tem força política e um desempenho como governador muito bem avaliado?.
Para o ex-presidente, os líderes tucanos devem se empenhar para evitar a repetição da disputa entre Serra e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin na definição da candidatura presidencial em 2006. ?Acho possível que o partido tenha um candidato de consenso. Basta a direção ver para que lado os eleitores se inclinam e não forçar um candidato. É muito cedo para saber se será Serra, Aécio ou outro. Pouco provável ser outro. Vamos deixá-los trabalhar, torcer por qualquer dos dois e ver como se situarão frente ao eleitorado em 2010.?
No ano passado, durante o primeiro turno da eleição presidencial, FHC demonstrou insatisfação com comportamento de líderes do PSDB que, na sua avaliação, não defenderam ou defenderam mal seus dois mandatos (1995-2002). Na esteira da polêmica gerada pela divulgação da ?carta aberta? no site do partido, chegou a falar em ?inocente útil? tucano como ?instrumento das forças do atraso?, num então eventual segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governador de Minas foi apontado na época como alvo das declarações por suas relações com o presidente.
Ao jornal mineiro, o ex-presidente, porém, foi enfático ao descartar a possibilidade de Aécio deixar o PSDB para lançar-se candidato à Presidência por outro partido. ?Ele é um homem de lealdades, sabe que tem boas oportunidades no PSDB e, se por acaso não vier a ser o indicado, serrará fileiras com o seu partido.?
Mais uma vez, FHC demonstrou descontentamento com a aproximação de dirigentes tucanos com o Planalto. Ele observou que os partidos amadurecem quando chegam ao poder. ?Talvez a perda do poder é que tenha provocado um trauma no PSDB Como voltar a ser oposição já havendo exercido o governo? Nessas circunstâncias, os partidos se tornam menos agressivos. Veremos o que vai acontecer com o PT quando voltar a ser oposição.?
O ex-presidente também citou o que considera avanços de seus dois mandatos – como o ajuste do País ?aos ideais da social-democracia contemporânea?, as privatizações, a criação das agências reguladoras e o programa Bolsa-Escola. E voltou a cobrar dos correligionários a defesa das ações do governo presidencial tucano. ?Não há por que deixar de defender com força o que fizemos. Foi erro do PSDB não tê-lo feito nas campanhas eleitorais?, concluiu.