O ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González disse que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva “agora terá um caminho difícil, e ele sabe disso melhor do que ninguém, sobretudo melhor do que as agências de classificação de risco e analistas de investimentos, que não parecem levar em conta que se governa para os cidadãos e que, sem uma política para eles, nenhuma democracia é eficiente nem, por isso, sustentável”.

Por isso, pediu que a comunidade financeira internacional e seus organismos “especulem para baixar as taxas de juros, não para que subam”. Segundo ele, o Brasil “pode crescer e deve crescer para o seu próprio desenvolvimento econômico e social e para honrar os seus compromissos, como reiteirou Lula”.

González definiu a vitória de Lula como “um triunfo importante para o Brasil, mas que transcende as fronteiras e sacode a América Latina com um vento diferente, com um grito de expectativa, reclamando por outro destino”. Em artigo publicado hoje pelo jornal El País, o ex-líder do Partido Socialista Operário Espanhol – a quem é amplamente atribuído o processo de modernização da democracia espanhola – lembrou que, há exatamente duas décadas, ele venceu a eleição em seu país, despertando a mesma esperança por mudanças na população.

González parabenizou Lula e “os milhões de brasileiros que não se deixaram arrastar pelos adversários, que não votam mas condicionam com o medo o voto livre dos cidadãos”. Ele também felicitou o presidente Fernando Henrique Cardoso, que, com “seu espírito profundamente democrático, tornou possível o jogo limpo e viveu o dia da alternância com uma participação impecável, carregada de civismo”.

Capacidade

O ex-primeiro-ministro espanhol afirmou que “ouviu os argumentos de sempre” nas últimas semanas e meses que antecederam a vitória do PT. “Lula, por ser de esquerda, é um esquerdista e, por ser popular, é um populista”, disse. “Se fosse de direita, teria recebido a qualificação de homem de centro e popular.” Para González, o presidente eleito do Brasil “é uma personalidade madura e forte, capaz do pacto e da decisão, em um país que necessita ambas as coisas”.

Por isso, o líder petista poderá “desenvolver políticas inclusivas dessas maiorias que seguem na marginalidade, um sonho que compartilha com Cardoso e até com opositores eleitorais como Serra e outros”. O ex-líder espanhol afirma que a “vontade de construir de Lula é imensa, como é inexistente o seu desejo de destruir”. “Lula é um patriota”, definiu.

González afirmou que gostaria de ver os líderes do Estados Unidos e da Europa convidando Lula para encontros, “para que o julguem pelo o que ele é, não pelo que dizem que ele é”. Ele gostaria também de “ver os investidores reunindo-se com Lula já, não por oportunismo, nem por interesses espúrios, mas porque o destino do Brasil depende do esforço de todos e do conhecimento de sua realidade, começando por seu presidente eleito”.

“O destino do Brasil condicionará o próprio destino de sua região continental e afetará, nesta economia globalizada, os chamados países centrais”, analisou. “Solidarizar-se com o Brasil, ajudá-lo num caminho de exclusão e desenvolvimento social não é bom apenas para os brasileiros, mas sim vital para todos”, acredita.

Para Gonzalez, “os que não querem fazer isso por razões humanitárias, que o façam por egoísmo inteligente, pois o êxito do País é uma necessidade que transcende seus próprios limites e pode marcar um destino para sair da estranha crise que vivemos”.

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