‘Fapesp não pode fabricar produto’, diz Goldemberg

O trabalho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) foi colocado em questão nesta semana. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), teria dito, em reunião com seus secretários, que a fundação gasta dinheiro com pesquisas sem utilidade prática, investindo em projetos de sociologia, enquanto deixa de apoiar o desenvolvimento da vacina contra a dengue do Instituto Butantã. O assunto foi levantado pela coluna Radar On-line, da revista Veja.

Secretários negaram a polêmica. À reportagem, o presidente da Fapesp, José Goldemberg, considera oportuno discutir o investimento em pesquisa e destacou que a fundação investiu R$ 2 milhões só em pesquisas direcionadas ao Butantã.

Como o senhor interpreta as críticas feitas pelo governador?

Não sei o que aconteceu. Mas é provável que as declarações tenham sido interpretadas fora de contexto. Acho, porém, que é até positivo debater o investimento em pesquisa.

Por que a Fapesp considera que estudos sem aplicação prática imediata não são inúteis?

Vou dar um exemplo. Quando Nicolau Copérnico mostrou que a Terra girava em torno do Sol, muitos argumentavam que a descoberta não tinha importância. Mas mudou toda nossa visão do Universo, reduziu o poder da Igreja e produziu efeitos práticos imensos.

E quanto às ciências sociais e humanas?

Os estudos nas áreas sociais são muito importantes, porque acabam produzindo as políticas públicas. Basta citar os trabalhos de Florestan Fernandes sobre a questão racial na sociedade brasileira e os estudos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a teoria da dependência.

A Fapesp investe excessivamente em ciências sociais?

O número de projetos de pesquisa é grande, mas eles envolvem recursos pequenos em relação aos projetos de ciências da saúde, exatas e biológicas. Essas áreas recebem cerca de 2% dos recursos da Fapesp.

Houve investimentos da Fapesp nas pesquisas para a vacina contra a dengue do Butantã?

Sim, cerca de R$ 2 milhões foram investidos em 2008, além de muitos projetos de cientistas ligados a essas pesquisas. Além disso, a Fapesp lançou em fevereiro programa de R$ 100 milhões para apoiar projetos de pesquisa aplicada ao desenvolvimento de vacinas.

Os investimentos nos testes clínicos e desenvolvimento industrial da vacina escapam às atribuições da Fapesp?

Sim. Como o nome diz, a Fapesp tem a incumbência de apoiar o desenvolvimento científico e tecnológico. Mas há coisas que o regimento não permite que se apoie, como fabricar produtos, construir edifícios ou pagar salários.

Como a fundação investe em inovações?

Estimulamos o setor privado. Uma das formas é o programa Pipe (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), que apoia empresas startup, onde começam as grandes inovações. Se for algo promissor, entra até na segunda fase do programa, que investe até R$ 1 milhão. A Fapesp já apoiou cerca de 1.500 startups no Estado, 150 só no ano passado.

Há parceria também com grandes empresas?

A Fapesp tem 18 convênios com grandes empresas internacionais para desenvolvimento conjunto de pesquisas. E, como são projetos de interesse das empresas, todos envolvem aplicações práticas da ciência.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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