Uma das principais características do autismo é a dificuldade de interação social, muitas vezes confundida com birra ou timidez. Além disso, a pessoa com transtorno do espectro autista (TEA) geralmente apresenta atrasos de linguagem e comportamentos restritivos e repetitivos. A fim de promover um melhor desenvolvimento de crianças com essas condições e a inclusão escolar, um fantoche eletrônico tem sido a aposta de um projeto desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Renato Ventura, membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e professor do Departamento de Sistemas de Automação e Energia na UFRGS, foi responsável pelo desenvolvimento da parte eletrônica do fantoche utilizado para contar histórias infantis.
O profissional, que é especialista em robótica educacional e tecnologias assistivas, teve contato com uma tese de doutorado desenvolvida pelo professor Roceli Lima na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Na pesquisa, Lima buscou uma metodologia para conseguir um processo de atenção conjunta de crianças autistas. Fazendo uso da técnica de contar histórias com um fantoche convencional, ele associou a projeção de imagens em uma tela.
O que Ventura fez foi aprimorar o trabalho, que contou ainda com a parceria da professora Liliana Passerino, do programa de pós-graduação em informática na educação, também da UFRGS, para pessoas com deficiência. Ele desenvolveu dois sensores, um que fica junto com o fantoche e outro que pode ser colocado em qualquer outro objeto. Quando os dois se aproximam, um sinal é enviado por uma rede sem fio e o objeto em questão é projetado em animação.
Assim, quando o professor conta uma história em que tem um macaco, por exemplo, um “dedoche” (fantoche de dedo) no formato do animal é aproximado do fantoche principal. Por meio de um programa de computador previamente preparado, o primata aparece na tela e emite sons.
“Uma das características (do autista) é ter gostos bem focados. Se não gosta de algo, vira as costas e não te olha. Com o fantoche, percebemos que a criança olha, vai em direção ao objeto, toca”, relata Ventura. Com os sons emitidos também é possível desenvolver a oralidade das crianças.
Avaliação
Para demonstrar a eficácia do dispositivo, os pesquisadores o testaram em turmas de crianças compostas por estudantes com ou sem autismo e outras apenas com pessoas com TEA. Na primeira fase, as histórias eram contadas só verbalmente e isso não chamava muito a atenção delas. No máximo, havia imitação quando o professor olhava para algum objeto.
Na sequência, a história foi acompanhada apenas de uma imagem projetada em tela digital. Segundo Ventura, isso já chama a atenção de alguma forma. Por fim, quando, além da história, a criança tem o objeto animado na tela e o físico perto para tocar, o interesse aumenta. “A criança interage, começa a participar da história”, afirma. O especialista conta que teve também retorno dos pais. “As crianças perguntam para eles se vai ter fantoche na escola.”
O projeto já é utilizado na formação de professores da faculdade de educação da UFRGS, tanto para que eles atendam alunos autistas quanto com outras deficiências cognitivas. A ideia, segundo Ventura, é implementar o projeto estadual ou nacionalmente. Antes, a equipe trabalha para tornar a ferramenta mais flexível para os educadores, pois ainda é necessário conhecimento básico de programação.