Brasília – Em caso de acidente aéreo com vítimas, nem sempre as indenizações são pagas com a rapidez que os familiares esperam. Onze anos depois de acidente com o Fokker 100 da TAM em São Paulo, parte das famílias ainda não recebeu indenização.
O jornalista Jorge Tadeu da Silva, que teve a casa onde morava com a família destruída pela queda do avião, é um dos que reclamam da demora no pagamento. No caso dele, a TAM recorreu duas vezes da decisão, e o processo hoje aguarda julgamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
?Cerca de 10% das indenizações não foram pagas ainda. A minha família ainda não foi indenizada. Vencemos nas duas instâncias em São Paulo, porém a TAM recorreu ao STJ?, disse.
O vôo 402 da TAM, um avião Fokker 100, ia de São Paulo para o Rio de Janeiro em 31 de outubro de 1996 e, menos de dois minutos depois da decolagem, caiu sobre o bairro do Jabaquara, zona sul da cidade. Na queda, espalhou destroços sobre dois prédios e sete casas ? inclusive a de Jorge Tadeu – causando a morte das 99 pessoas que estavam à bordo e mais três que estavam no solo.
A casa de Jorge Tadeu era vizinha à de seus pais. As duas foram destruídas. ?As casas foram atingidas pelo avião e tiveram parte da estrutura destruída. Houve também a perda total do conteúdo das casas por conta dos destroços?, disse. Ele afirmou que os pais concordaram com o pagamento da indenização de R$ 50 mil e, com o dinheiro, conseguiram reconstruir as duas casas. ?Mas os móveis e outras coisas do interior das casas foram comprados com o tempo?, afirmou.
A batalha jurídica que Jorge Tadeu tem enfrentado é motivo de estresse para a família. ?O seguro do avião era de R$ 400 milhões. O valor inicial oferecido por eles para indenização era de apenas R$ 14 mil?, comentou.
Ele ainda reclama de abandono por parte da empresa. ?Ninguém nunca ninguem deu um telefonema ou veio perguntar como a gente estava?, disse. ?Esse gabinete de crise criado pela empresa é para administrar a crise com a imagem da empresa. O tratamento dos familiares e indenizações fica em segundo plano. Não tivemos atendimento psicológico, nem religioso. Eles criam uma imagem de que a empresa é muito preocupada.?
No caso das vítimas de um dos maiores acidentes da aviação civil brasileira, o Boeing da Gol que se chocou com um jato Legacy em setembro do ano passado ?, são movidas duas ações de indenização. Uma está em tramitação na Justiça brasileira e outra na Justiça norte-americana, já que o Legacy era pilotado por norte-americanos.
No caso da Justiça dos Estados Unidos, a expectativa é que as indenizações comecem a ser pagas já no próximo mês, de acordo com o presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo 1907, Jorge André Cavalcante.
Segundo ele, mais de 90 familias acionaram a Justiça norte-americana em busca de indenização. ?A nossa maior especativa é lá. Sabemos que as coisas são mais rápidas. No Brasil, não tem prazo. A justiça brasileira cumpre todo um ritual que às vezes atrasa as indenizações?, comentou.
Jorge Cavalcante informou que a Gol prorrogou por mais um ano a assistência médica e psicológica às famílias, algo que ele considera fundamental. Segundo ele, depois de fazer o reconhecimento do familiar e prestar as últimas homenagens, há uma sensação de vazio muito grande. ?Esse é o pior momento, quando você olha para o lado e não vê a pessoa, não consegue falar com a pessoa que você amava, que tinha contato. Por isso é tão importante a assistência médica e psicológica?, ressaltou.