A casa onde Ana Lúcia Menezes de Souza, de 19 anos, morava com outros nove familiares na Favela do Metrô, na Mangueira, zona norte do Rio, foi demolida pela prefeitura esta semana. Com os poucos objetos que conseguiram retirar, eles ocuparam outra moradia, praticamente na frente da antiga casa. “Não temos pra onde ir. Temos crianças aqui e na rua ninguém aprende nada de bom.”
Na casa nova falta saneamento básico: um valão corre a céu aberto e o lixo está por todo lugar. É lá que o filho e o sobrinho, de 3 ou 4 anos (Ana Lúcia não soube confirmar as idades deles), brincam. “Aqui, não tem praça, não tem nada. Eles sempre ficam doentes por causa dessa água suja, mas é melhor do que morar na rua”, disse.
Ela e a prima Ana Júlia, de 16 anos, afirmam que moravam na rua e catavam lata para sobreviver. Há cerca de três anos, elas viram as casas da favela vazias e resolveram ocupá-las. “No dia que demoliram a outra casa, uma assistente social disse para a gente escolher entre ir para um abrigo ou ficar na rua. Já fiquei em abrigo, mas é muito ruim. Acho melhor ficar na rua”, afirmou Ana Júlia.
Mesmo vendo as casas ao redor serem demolidas, elas disseram que a família ficará na residência e têm esperança que a prefeitura do Rio ofereça uma moradia para quem ficou na região. O jogador de futevôlei Weber Garcez, 33 anos, há nove meses, ocupou uma das casas vazias com um amigo. Nascido na Mangueira, Garcez voltou para a favela depois de ficar desempregado. A residência onde morava com o amigo foi demolida com todos os pertences dentro. “Não consegui salvar nem os meus documentos, só tenho a carteira de identidade porque estava comigo. Tentei procurar alguma coisa nos escombros, mas os guardas-municipais me impediram. Estou sem rumo.” Ele conseguiu abrigo na casa de amigos.
Na entrada da favela, moradoras cozinhavam para distribuir para os vizinhos que ficaram sem casa. “A casa caiu, mas a luta continua”, disse uma das cozinheiras, que também ficou sem lugar para morar. Em 2010, a prefeitura da capital fluminense começou a desocupar a Favela do Metrô para construção do Polo Automotivo da Mangueira e áreas de lazer para os moradores da região. Desde então, 662 famílias receberam imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida e a maioria foi reassentada nos Condomínios Mangueira I e Mangueira II, do lado da comunidade. Em dezembro, as últimas famílias receberam imóveis no bairro Carioca, em Triagem, também na zona norte.