Rio – A família do comerciante chinês Chan Kim Chang decidiu entrar na Justiça contra a União e o Estado com pedido de indenização pela morte dele, causada em decorrência de provável sessão de espancamento no presídio Ary Franco. O advogado David Lopes acredita que tanto a União quanto o Estado têm responsabilidade no caso, porque, apesar de o crime de evasão de divisas, pelo qual o chinês foi preso, ser de competência federal, ele ficou detido numa unidade estadual.
Lopes disse que, em duas semanas, irá reunir os documentos necessários para instruir a ação e mostrar que a morte de Chang foi provocada por agentes penitenciários. O comerciante era o provedor da família. Sustentava a mulher e dois filhos, um garoto de 13 anos e uma menina de 15 que moram nos Estados Unidos, para onde Chang ia quando foi detido pela Polícia Federal, em 25 de agosto, no aeroporto internacional do Rio.
O advogado disse que a família quer ainda reaver os US$ 30 mil que o chinês levava e provar que o dinheiro é proveniente da venda de uma das pastelarias que ele tinha no Rio. Os dólares foram retidos pela PF e estão à disposição da Justiça Federal.
O procurador da República Rogério Nascimento, coordenador criminal do Ministério Público Federal, que pediu informações à PF sobre o que ocorreu nas pouco mais de 12 horas em que Chang ficou sob a custódia de agentes federais, disse ontem que não há indícios de que ele foi agredido pelos três policiais que fizeram sua escolta, ao contrário do que afirma o secretário de Segurança Pública do RJ, Anthony Garotinho.
O dossiê preparado pela PF informa também que o chinês ficou muito nervoso ao chegar o Instituto Médico-Legal (IML) para ser submetido a exame de corpo de delito, no início da tarde do dia 26 de agosto, e disse que não queria entrar porque não sairia vivo dali. O motivo da tensão não é explicado. “Só quem o conhecia na intimidade poderá dizer”, acredita o procurador.
O delegado Marcelo Fernandes, que investiga as circunstâncias da morte de Chang, pretende ouvir 30 pessoas até o fim da semana, entre elas sete presos que dividiram a cela com o comerciante. Eles poderão esclarecer qual foi o horário em que o chinês saiu e voltou da cela e ainda quem o retirou de lá. Doze outros detentos já prestaram depoimento. Os seis agentes penitenciários suspeitos também serão ouvidos.