A falta do repelente Exposis fez surgir um mercado negro do produto. Em farmácias pequenas, balconistas oferecem o frasco com ágio, desde que o pagamento seja em dinheiro. O repelente é negociado em sites de vendas por preço três vezes mais alto do que o cobrado em lojas. Há ainda listas de espera pelo repelente.

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O médico Luiz Eduardo Albuquerque, de 60 anos, comprou dois frascos do Exposis no “mercado negro”, como ele mesmo classificou a negociação. Morador do Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste, ele saiu em busca do repelente para o filho, de 7 anos, que é alérgico. “Quando vi na televisão que estavam indicando o repelente, imaginei que iria esgotar. Como meu filho é alérgico e desde pequeno só pode usar essa marca, comecei a procurar. Já tinha desaparecido. Parei em dez ou 15 farmácias no caminho para o trabalho e quando perguntava, já vinham três ou quatro pessoas atrás procurando o mesmo repelente. Achei no mercado negro”, contou o médico no fórum sobre zika organizado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj).

Albuquerque telefonou para farmácias e só ouviu negativas. “Até que um balconista disse que não tinha o produto na loja, mas sabia onde conseguir, desde que eu pagasse em dinheiro.” O médico pagou R$ 120 por dois frascos. Antes, pagava R$ 42. O Exposis também é oferecido a até R$ 179 cada frasco no site de compras Mercado Livre.

O jornal O Estado de S.Paulo percorreu 14 estabelecimentos – quatro tinham listas de espera, mas os funcionários deram poucas esperanças de o repelente ser reposto. Em uma das filas, havia 110 pessoas inscritas. A advogada Ludmila Lacerda, de 29 anos, grávida de 6 meses de João Pedro, contou que ela e a mãe passaram por mais de dez farmácias, sem encontrar o produto indicado pela médica.

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“Minha vizinha de 2 anos pegou zika. Estou preocupada porque procuro em todo o lugar e não encontro. Já fiz a ultra e está tudo bem com o bebê, o tamanho do cérebro normal. É uma situação muito angustiante”, afirmou.

O diretor-geral do laboratório Osler, que representa o Exposis no Brasil, Paulo Guerra, informa que aumentou em 1.100% a produção (os números absolutos são sigilosos por conta do acordo com laboratório francês fabricante do repelente).

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“Não há falta do repelente. O que houve em 12 dias, desde a confirmação pelo Ministério da Saúde de que havia ligação entre zika e microcefalia, foi uma corrida sem precedentes. Tem produto na estrada indo para o Nordeste. Icaridina (produto ativo) vindo da Alemanha para o Brasil. Repelentes no centro de distribuição das farmácias. Mas não foi suficiente para equilibrar a demanda”, afirmou.

Ele faz um apelo para as pessoas não estocarem em casa. Criticou o Mercado Livre por anunciar o produto. “É inconcebível a revenda de produtos regulamentados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O site devia coibir esses anúncios.” Em nota, o Mercado Livre informou ser “uma empresa de tecnologia que oferece espaço para que vendedores e compradores se encontrem e negociem diretamente”. “O vendedor possui a liberdade de oferecer o produto no valor que entende ser mais competitivo, assim como o comprador pode optar por adquirir o produto com outro vendedor. “

São três as substâncias químicas aprovadas para repelentes no Brasil. O DEET, encontrado em produtos como OFF e Repelex; a icaridina, presente no Exposis; e o IR3535, da Loção Antimosquito Jonhson’s Baby – este último aprovado para bebês a partir dos seis meses. “Todas essas substâncias são eficazes contra o mosquito. A questão é a concentração. No Brasil, não se encontra a concentração recomendada em outros países, como os Estados Unidos, que é entre 15% e 20%”, afirmou o presidente da Sociedade de Infectologia do Rio, Alberto Chebabo.

O Exposis tem a icaridina concentrada a 20%, o que garante a proteção por dez horas. “Em dias muito quentes, a reaplicação deve ser entre 6 e 8 horas”, afirmou Chebabo. Já o DEET é encontrado em concentrações entre 7% e 14% e deve ser repassado na pele em intervalos mais curtos. O IR3535 tem concentração de 12% na Loção Antimosquito, o que faz com o que o produto deva ser repassado a cada 4 horas”.

“A necessidade de passar o produto no corpo mais vezes dificultas a adesão das pessoas ao uso do repelente, mas todos são eficazes e seguros”, afirmou o infectologista José Cerbino, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).