Uma redução da carga tributária e um câmbio mais favorável às exportações e desfavorável às importações não iriam elevar a competitividade do produto brasileiro nem no mercado interno nem no externo, com defendem os empresários. Um amplo estudo sobre a competitividade da indústria paulista, realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo, mostra que o setor precisa mesmo é investir em pesquisa e desenvolvimento para obter um padrão de qualidade de nível mundial, enfrentar a concorrência e elevar seus retornos financeiros.
Trata-se, na verdade, não apenas de desafio econômico, mas, sobretudo, cultural. Tirando grandes empresas de atuação internacional, como Petrobras, Vale e Embraer, por exemplo, o empresário brasileiro investe pouco em P&D, apenas em aumento da oferta. Agora, no entanto, terá de correr atrás do tempo perdido se quiser continuar no mercado.
A questão é que o papel do governo passa a ser o de incentivar o investimento e não mais subsidiar os empresários. ?O cenário para a indústria nos próximos dez anos é bastante difícil. Há muita concorrência, os investimentos globais em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) crescem em todas as áreas, e se o empresário brasileiro não pensar nisso, não investir pesado, será afetado muito rapidamente?, resume Denise Andrade Rodrigues diretora de Política Industrial e Tecnológica do IPT, coordenadora do trabalho que estudou 26 setores da indústria paulista, a pedido da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Estado. O estudo, embora paulista, é uma referência para todo o País.
A China, grande concorrente do Brasil em várias áreas dos mercados interno e externo, já não é mais simplesmente um indústria que faz cópias, e de má qualidade. Isso ainda existe, mas ?há a outra China, que investe forte em P&D e que vende no mercado dos Estados Unidos?, disse a diretora do IPT.
Denise não deu detalhes do estudo, que será divulgado aos empresários a partir da próxima semana, no seminário ?Uma Agenda de Competitividade para a Indústria Paulista: Oportunidades de Desafios?, para validar os diagnósticos e as propostas para a competitividade paulista.
O que está claro é que São Paulo precisa atrair indústrias que agreguem valor, como empresas de design, consultorias em novos materiais, em química fina e engenharia automotiva, por exemplo. É preciso desenvolver produtos com vida mais longa, melhor qualidade, em aumento de escala, na elaboração de subprodutos e em tudo o que eleva a competitividade concorrencial e os ganhos de produtividade.
Um problema detectado em praticamente todos os setores avaliados é a falta de padronização, modelagem e normas métricas. O álcool por exemplo, tem um nível de padronização ainda muito incipiente. ?Ainda não se sabe nem qual o padrão para ser exportado. É preciso sempre ir trabalhando com qualidade, com certificação dos produtos?. Calçados e roupas são ainda pior. Nesses setores, não se faz base de dados de padrões, não se consegue segmentar mais nem para o mercado interno, quanto mais para o externo.