Falhas no som e acidentes tumultuaram desfiles em São Paulo

Falhas no som e acidentes de todo o tipo tumultuaram a primeira noite de desfiles do carnaval de São Paulo. O que mais chamou a atenção de parte dos 22.690 foliões – segundo estimou a Polícia Militar – que permaneciam no sambódromo ontem de manhã foi o ocorrido com a rainha da bateria da Mocidade Alegre, Nani Moreira.

Ela teve testa e mãos queimadas depois que seu adereço da cabeça pegou fogo, mas continuou o desfile até o fim. A Gaviões da Fiel, em sua volta à elite do samba paulistano, teve o mastro da porta-bandeira quebrado e está sendo acusada de fazer merchandising irregular.

Também houve problemas na organização. A Liga das Escolas de Samba não soube informar o motivo de o sambódromo ter ficado diversas vezes sem som, durante os desfiles de Império da Casa Verde, Camisa Verde e Branco e Acadêmicos do Tatuapé. Durante as pausas, podia-se ouvir apenas o puxador do samba ou sons de alguns dos instrumentos utilizados na bateria. "É complicado, mas a arquibancada veio junto com a escola e isso ajudou", disse o intérprete da Tatuapé, Celson Mody, o Celsinho.

Antes da escola da zona leste entrar na passarela, houve um acidente na concentração. Um bombeiro se feriu ao cair de um carro alegórico da Tatuapé e foi hospitalizado.

No desfile seguinte, o fotógrafo Ricardo Arruda Filho acabou agredido por um integrante da Império de Casa Verde, sob o argumento de que estaria atrapalhando a passagem da escola. "Eu estava na frente do abre alas. Ele me empurrou e me deu um soco" contou. Arruda levou dois pontos no supercílio direito e registrou boletim de ocorrência. O agressor não foi localizado pela polícia ao fim do desfile.

A Gaviões abriu a noite no Anhembi com o enredo Asas da Fascinação. A comissão de frente trazia uma pequena réplica do avião 14 Bis. O desfile corria sem muitos problemas até o incidente com a porta-bandeira, que saiu chorando da avenida. A escola teve de correr e fechou às pressas o portão que marca o término do desfile. Mesmo assim, ultrapassou em um minuto o tempo regulamentar de 1h05.

A Liga já confirmou que a Gaviões perderá 2 pontos por isso e ainda analisa uma eventual propaganda no gerador de energia e o uso do símbolo do Corinthians nas alegorias. Com isso, a escola alvinegra ainda corre risco de perder mais 4 pontos.

A Rosas de Ouro, segunda escola a desfilar, contou a história dos negros. As fantasias chamaram atenção pelo luxo, brilho e originalidade. O vestido de uma das porta-bandeiras era todo vazado, deixando as pernas à mostra, e o de outra, feito de uma espécie de palha, em vez das tradicionais penas. O material também apareceu em saiotes de uma ala que representava os escravos e tinha apenas integrantes negros. Todas as mulheres mostravam os seios.

"Odeio nu gratuito, mas tive que usar porque faz parte da cultura africana", disse o carnavalesco Fábio Borges. Senhores de engenho carregados em redes e uma escultura de um tronco gigante também fizeram parte do desfile, que terminou por volta da 1h30.

A tradicional Nenê de Vila Matilde resolveu investir na emoção. Logo na comissão de frente o próprio Nenê, de 84 anos, que fundou a escola, apareceu. O público vibrou. Foi um festival de fotos. As fantasias estavam mais simples e o abre-alas apresentou um problema mecânico que prejudicou o desfile e fez a alegoria ziguezaguear.

Seu Nenê minimizou o incidente, com simplicidade peculiar: "O carro não desfilou? Fazer assim ou assado não tem problema." Como consolo, a bateria deu show e arriscou uma paradinha.

Com enredo politicamente correto, a Acadêmicos do Tatuapé falou do cooperativismo e da igualdade social. Apesar do samba de letra fácil, não empolgou a platéia que ainda lotava o sambódromo por volta das 3h30.

A campeã do ano passado, Império da Casa Verde, entrou cheia de luxo. Logo no primeiro carro tinham dois tigres com movimentos revestidos de pelúcia. Todas as fantasias eram cheias de detalhes e plumas, a avenida ficava preenchida pelas alegorias.

Quando a Camisa Verde e Branco entrou no Anhembi, por volta das 5h30, o dia clareava e boa parte do público já tinha ido embora. Quem ficou levantava bexigas da cor da escola para saldar o enredo que fazia uma viagem ao mundo do prazer, falando das vinhas e dos vinhos. A coordenadora da ala das baianas, Vera Guedes, desmaiou durante o desfile e foi socorrida pela ambulância.

A Vai-Vai entrou na avenida sob a luz do sol, o samba dizia "deixa clarear". E foi justamente o refrão fácil que fez a arquibancada levantar. A comissão de frente, que mostrava os portugueses chegando à cidade de São Vicente, também chamou atenção da platéia. "A harmonia estava perfeita. Independente do resultado foi um desfile maravilhoso", avaliou o presidente da escola Solon Tadeu.

Fechando a primeira noite de desfiles, já na manhã de sábado, a Mocidade Alegre levou ao sambódromo o enredo sobre o Rio São Francisco. A comissão de frente vermelha e verde foi reforçada por uma alegoria: ajoelhada, a índia Iaty chora a morte do amado e, assim, dá origem ao Velho Chico.

Os ritmistas e passistas da agremiação lamentaram o acidente com a musa da escola, Nani. Ao chegar à dispersão, ela não conseguiu conter o choro. "Ela foi profissional e guerreira como sempre, mesmo depois desse acidente", disse a presidente da Mocidade, Solange Cruz Bichara Rezende. "Se os jurados vão tirar pontos por isso, não dá para saber." No fim do desfile, a bateria da escola voltou ao portão que fecha a passarela para aproveitar, por mais alguns minutos, a primeira noite do carnaval paulistano.

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