Problemas adquiridos dentro de hospitais, com causas diferentes das que levaram o paciente à unidade de saúde, foram responsáveis por até 302 mil mortes no País no ano passado, segundo estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e divulgado nesta quarta-feira, 22. A maioria dessas mortes poderiam ter sido evitadas com práticas mais seguras dentro dos centros médicos, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
São exemplos de condições adquiridas nos hospitais – também chamadas de eventos adversos – infecções hospitalares, lesões decorrentes de quedas dentro dos estabelecimentos, trombose venosa profunda ou embolia pulmonar, infecção urinária associada ao uso de sonda, erros médicos, entre outros. Segundo os pesquisadores, cerca de 60% de todos os eventos adversos são evitáveis.
Para chegar ao número estimado de mortes por eventos adversos e conhecer os detalhes das condições mais prejudiciais aos pacientes, os cientistas levantaram o número total de internações realizadas no País no ano passado e calcularam, com base em dados da literatura prévia sobre o assunto, o porcentual de mortes causadas por condições adquiridas durante a internação. O número varia de 120 mil a 302 mil. Para efeito de comparação, o câncer mata, por ano, 209 mil brasileiros.
O estudo também avaliou 240 mil prontuários de pacientes hospitalizados entre 2016 e 2017 e descobriu que 7,2% deles desenvolveram algum problema do tipo durante o período em que ficaram internados.
Para Renato Couto, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e um dos autores do estudo, saber o tamanho do problema é o primeiro passo para combatê-lo. “Esse não é um desafio do Brasil, é global. É preciso ter transparência e conhecer os números de cada hospital.”
O especialista destaca que mudanças na prestação de serviço hospitalar são necessárias. “A Medicina mudou muito nos últimos anos e precisamos rever o formato de assistência. Uma das medidas que aumentariam a segurança do paciente seria a mudança no modelo de pagamento: pagar pelo desfecho clínico e não pelo procedimento”, defende Couto.
Fundador e diretor executivo do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), o médico infectologista José Ribamar Branco destaca a necessidade de adoção de protocolos mais rígidos nos hospitais. “Todas as unidades deveriam adotar os padrões de segurança definidos pelos órgãos de certificação”, afirma.
Diretor da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Reginaldo Teófanes Araújo diz que a entidade promove eventos para seus afiliados sobre segurança do paciente e estimula a busca pelas acreditações de qualidade. “O número de hospitais que buscam os selos de excelência está crescendo, mas ainda é pequeno”, afirma.
Já o Ministério da Saúde afirma que, nos últimos quatro anos, publicou seis protocolos básicos de segurança do paciente e que realiza projetos de melhoria dentro de hospitais públicos (mais de 60) com foco no cuidado seguro. “Já foram capacitados mais de 5 mil profissionais por meio de especializações, cursos a distância e aprimoramentos”, diz a pasta.