Peritos criminais envolvidos na investigação sobre as causas do acidente nas obras do Trecho Sul do Rodoanel estão convictos de que o desabamento ocorrido há uma semana foi provocado por falha ou ausência do travamento provisório das vigas. O Instituto de Criminalística (IC) já requisitou à Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) e ao consórcio responsável pelo trecho documentos técnicos e plantas para entender detalhes sobre a execução do projeto. A avaliação preliminar dos peritos é a de que o tombamento de uma das vigas criou um “efeito dominó”, fazendo com as outras duas também desabassem sobre a Rodovia Régis Bittencourt (BR-116).
A principal hipótese para o primeiro tombamento, dizem peritos, seria a combinação entre trepidação e deslocamento de ar provocada, por exemplo, pela passagem de um caminhão. Embora cada viga pese 85 toneladas, a ausência ou falha no escoramento faria com que a peça ficasse em situação instável. Nesses casos, a queda ou não depende da perturbação a que ela será submetida.
Sabe-se que as vigas sobre a Régis estavam em estágio intermediário de instalação. Das cinco previstas para o trecho, quatro haviam sido colocadas – a última acabou danificada no transporte, entre o canteiro e a rodovia, e não pôde ser utilizada. Peritos do IC explicaram que, mesmo sem a quinta viga, as demais deveriam ter recebido travamento provisório, que pode ser feito com mãos francesas (estrutura triangular em metal) ou pedaços de madeira.
Indícios colhidos no local do desabamento reforçam a hipótese de problemas no escoramento. Na visão de peritos, as três fissuras verificadas no bloco de apoio das vigas indicam que as três tombaram para o mesmo lado, correspondente ao sentido da via.
Além disso, o IC não encontrou entre os escombros peças ou pedaço de madeira que sugiram a existência de um travamento provisório entre as vigas. Por ora, esse fato é relativizado pela perícia criminal, uma vez que esses vestígios podem ter sido removidos durante os trabalhos de limpeza e desinterdição da rodovia. Só depois de analisar a documentação técnica da obra e cotejá-la com os depoimentos de engenheiros e operários é que será possível descobrir se o escoramento das vigas não funcionou ou se ele nunca existiu.
Para o diretor de Engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, o mais provável é que uma das vigas tenha quebrado e, ao cair, tenha empurrado as demais. “Há várias possibilidades para explicar esse problema com a viga, desde impacto durante o transporte até uma torção no içamento. Isso quem vai dizer são os técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).” O órgão ligado ao governo do Estado foi contratado por R$ 567 mil para elaborar um laudo. “Na minha opinião, não existe qualquer possibilidade de erro de projeto nessa obra.”