Brasília – O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) considerou frustrante o discurso feito anteontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cadeia de rádio e televisão. Ao discursar ontem em plenário, o senador disse que o presidente não deu explicações satisfatórias à sociedade e ignorou o escândalo de corrupção existente no poder público. Ainda segundo Alvaro Dias, Lula também não fez referência à reforma ministerial. O parlamentar disse não acreditar num novo ciclo de governo, pois o presidente acena com uma recomposição de sua equipe com o PMDB e o PP.
"Lula repetiu o que já havia dito e não convenceu mais uma vez", disse. Para ele a menção que o presidente fez da ação da Polícia Federal no combate à corrupção não justifica as manobras contra as CPIs, que querem investigar as denúncias. A este respeito disse: "O trabalho da Polícia Federal como instituição é excepcional, independentemente de quem governa o país, em qualquer circunstância e tem sido assim em vários governos".
Alvaro considerou injusta a apropriação que Lula fez da ação exemplar da Polícia Federal no combate à corrupção. "O presidente não tem combatido a corrupção, infelizmente, pois já em 2003 a oposição vinha denunciando a relação espúria entre o Poder Executivo e parte do Poder Legislativo, com a instalação deste balcão de negócios para a troca de apoio político por cargos nos ministérios, cargos comissionados e liberação de emendas parlamentares, e nada foi feito por Lula para coibir."
"Portanto, esperava-se muito mais do presidente, que praticamente ignorou os escândalos de corrupção que têm origem no seu governo", assinalou o parlamentar, lembrando que houve uma tentativa recente de Lula, no estado de Goiás, de transferir integralmente ao Congresso Nacional a responsabilidade pela corrupção. "Mas é evidente que a origem da corrupção está no Executivo, pois é lá que há toda uma trama para a captação de recursos utilizados na corrupção de parlamentares no Congresso Nacional", disse.
Esquerda elogia o pronunciamento
Rio – Representantes da esquerda do PT elogiaram ontem, no Buraco do Lume, tradicional reduto petista no centro do Rio, o pronunciamento que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reagindo às denúncias de que sabia do pagamento de propina a deputados das base aliada, fez anteontem na televisão. O senador Eduardo Suplicy (SP) e o deputado Chico Alencar (RJ) discordaram do presidente nacional do partido, José Genoino, e do deputado José Dirceu (PT-SP), que responsabilizaram a oposição pela tentativa de desestabilização do governo.
Para Suplicy, Lula "foi feliz ao dizer que não há (tentativa de) golpe" e, com a fala, "desautorizou" os líderes petistas que haviam dias antes insinuado o contrário. Na opinião do senador do PT de São Paulo, o secretário-executivo da legenda Sílvio Pereira, e o tesoureiro nacional, Delúbio Soares, deveriam tirar uma licença remunerada por iniciativa própria.
"A oposição está fazendo seu papel", disse Chico Alencar: "Quem mais atrapalha o governo é quem errou dentro dele", afirmou. Uma platéia de cerca de 80 pessoas assistiu ao discurso dos parlamentares.
Suplicy elogiou a escolha da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pois ela "já demonstrou que não aceita qualquer indicação política, mesmo com votações contrárias no Congresso". Para ele, a indicação representou um passo importante para estancar a crise: "Nos últimos meses, tivemos problemas sérios num dos pilares do PT, que é a bandeira ética. Temos de tomar medidas para que esses pilares não se quebrem".
Suplicy discordou das últimas declarações do ex-presidente FHC, que comparou a atual crise política brasileira com a venezuelana.