O número de acidentes envolvendo aeronaves usadas na instrução de pilotos em todo o País saltou de 2 para 16 (700%) na última década. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado ao comando da Aeronáutica, também verificou que o segmento aumentou a participação no total de acidentes aéreos – de 4%, em 1999, para 13%, no ano passado – porcentual mais elevado no período (1999 a 2008). E as estatísticas deste ano revelam um quadro ainda pior. Até junho, o Cenipa havia contabilizado 13 acidentes com aeronaves de instrução. Ou seja, em seis meses, o setor já acumula 81,2% do total de acidentes registrado no ano passado inteiro. Já o porcentual em relação ao total de acidentes na aviação civil brasileira disparou para 24% – isso sem contar os dois últimos acidentes, ocorridos neste mês no interior de São Paulo, o que elevaria o porcentual para 27,7%.
Para um investigador civil ouvido pelo jornal O Estado do Paraná, sob a condição de anonimato, os números são resultado de anos de “falta de fiscalização e despreparo de instrutores e escolas de aviação”. Por lei, a fiscalização do setor é de responsabilidade da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “É nítido que a agência relegou a aviação geral (táxi aéreo e jatos executivos) a um segundo plano”, disse. “O problema é que, no futuro, isso pode ser a pedra no sapato deles, pois estamos falando de falhas graves na base da pirâmide.”
As estatísticas oficiais mostram que ocorrências com aviões de instrução estão concentradas na Região Metropolitana de São Paulo e no interior do Estado, onde têm sede as maiores escolas de aviação do País. Dos 13 casos já somados pelos militares neste ano, 6 ocorreram em São Paulo, 2 no Paraná, e 1 no Rio, em Minas, Maranhão, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As causas mais comuns para os acidentes foram perda de controle em voo (3) e no solo (3), seguidas por falha do motor em voo (2).
Programa de prevenção
O Programa de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos para 2009, lançado no fim do ano passado pelo Cenipa, já alertava para a incidência dos casos de perda de controle em voo. “Evidenciam a inabilidade do aluno em realizar as manobras propostas, aliada à deficiência do instrutor em assumir os comandos a tempo de evitar o acidente”. O diagnóstico chamava a atenção ainda para “a falta de supervisão nas atividades de instrução”. Os acidentes com aviões de instrução não costumam deixar mortos. Desde 2008, a Aeronáutica não registra casos fatais.