Várias explosões provocaram labaredas de até 20 metros de altura durante o incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz, na madrugada de sábado. As explosões deslocaram grandes massas de ar, mas fizeram pouco barulho, o que intrigou os pesquisadores e funcionários civis da Marinha que acompanhavam à distância a tentativa dos militares de conter as chamas.

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Os tanques que armazenavam milhares de litro de gasoil artic, óleo anticongelante produzido pela Petrobrás para uso na base científica e militar brasileira na Antártida, não chegaram a ser atingidos pelo fogo, que começou, na análise inicial dos militares, em um dos quatro geradores de energia da praça de máquinas. Se o incêndio alcançasse os tanques, as explosões seriam ainda mais intensas e não haveria sobreviventes, avaliaram os pesquisadores nas conversas mantidas nos dois últimos dias.

O alarme sobre o incêndio na Estação Comandante Ferraz foi dado por gritos de “fogo”. O alarme não soou, não se sabe por qual razão. O chefe da base, capitão-de-fragata Fernando Tadeu Coimbra, conversava com cientistas em um dos ambientes quando os gritos começaram. A estação foi esvaziada imediatamente. Poucos dos que estavam nos alojamentos ainda conseguiram salvar dinheiro, documentos e celulares. Com a roupa que vestiam, alguns calçados apenas com chinelos, correram para fora da estação, onde a temperatura girava em torno de 5 graus negativos.

O grupo se refugiou em dois módulos isolados, um de meteorologia e outra de química. Neles, por rádio, acompanharam aterrorizadas as mensagens trocadas pelos militares empenhados em combater o incêndio. Logo souberam que o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto dos Santos estavam mortos. O sargento Luciano Medeiros, com queimaduras, foi levado para os abrigos e amparado pelos civis, que revezavam-se na aplicação de pomadas analgésicas. Outro grupo tentou ajudar, entrando no mar semicongelado para abastecer as mangueiras. Foram registrados casos de hipotermia (queda da temperatura corporal, o que pode causar a morte) entre eles.

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Com o corpo enrijecido pelo frio, um dos que foram até a água, teve os pés aquecidos de forma inusitada – colocados sob as axilas dos colegas até que a circulação sanguínea se restabelecesse. Como nem todos conseguiram levar os agasalhos, houve distribuição dos casacos impermeáveis guardados fora da Comandante Ferraz por pesquisadores e militares que costumavam navegar na Baía do Almirantado, em cuja costa foi instalada a base brasileira, há 29 anos.