Com média de um assassinato a cada quatro dias, as mortes de policiais militares de São Paulo estão em escalada desde o início de 2016. As ocorrências subiram em todos os meses e já somam 27 homicídios de PMs no Estado – o maior índice em sete anos. Entre os casos, há reações a assalto, execuções e confrontos. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirma que adota medidas para reduzir crimes contra policiais e que empenha equipes especializadas em investigações.
Embora abril não tenha acabado, o número de PMs mortos em São Paulo neste ano já é maior do que nos quatro primeiros meses de 2015. Também houve alta na comparação mês a mês. É o que mostra levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo com base em estatísticas registradas no Diário Oficial do Estado e informações da PM referentes a março e abril de 2016, ainda não publicadas.
Até o dia 12 de abril, foram mortos cinco PMs em serviço e outros 22 que não estavam em atividade na hora do crime. A soma é 68,75% maior do que os registros dos quatro primeiros meses de 2015, quando 16 PMs foram assassinados – seis em serviço, de acordo com o Diário Oficial.
Houve aumento em janeiro (de 50%), fevereiro (de 200%), março (de 75%) e até mesmo em abril, considerando dados parciais, já que o mês não acabou: foram oito ocorrências, ante seis no mês inteiro de 2015. O índice é o maior desde 2009, quando 34 policiais foram vítimas de homicídio.
Para o coronel reformado da PM José Vicente Filho, especialista em Segurança Pública, a quantidade de casos é “aterradora”. “Em Nova York (EUA), por exemplo, morre um policial por ano.” Na maioria das ocorrências, o policial estava fora de serviço, situação em que, segundo especialistas, o agente está mais exposto a riscos.
Segundo Vicente Filho, é preciso analisar caso a caso para explicar o aumento do índice. O especialista destaca que, recentemente, muitos PMs foram vítimas de assaltos, execuções, vinganças ou acabaram mortos por descuidos com segurança pessoal. “A ‘surpresa’ é a principal característica desse crime”, afirma o especialista.
Na zona sul da capital, o soldado Gilberto Jorge Cardoso, de 35 anos, foi assassinado por um assaltante na frente da mulher e da filha de 4 anos, em 8 de abril. O criminoso usou a arma do próprio policial, guardada sob o banco do carro. No dia seguinte, o cabo Miguel Lopes Filho, de 46 anos, foi executado em uma lanchonete de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Historicamente, a morte de policiais fora de serviço está relacionada à realização de “bicos” para complementar a renda. “Sabe-se muito pouco sobre o que acontece na folga. O aumento pode significar que mais policiais estejam procurando ‘bicos’, em que, obviamente, as condições de trabalho são muito piores”, diz o cientista político Leandro Piquet, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Pode ser um efeito mecânico da crise, de precisarem buscar mais dinheiro.”
Em serviço
Já os PMs que estavam em serviço foram mortos em confronto. A ocorrência mais recente é a do soldado Paulo Henrique Bazílio, de 34 anos, baleado na cabeça no dia 10, durante perseguição a dois criminosos em Rosana, no interior. Seis dias antes, os soldados Leonel Almeida de Carvalho, de 29 anos, e Alex de Souza da Silva, de 28, foram mortos por disparos de fuzil após uma quadrilha atacar uma transportadora de valores em Santos, no litoral.
A Secretaria de Segurança Pública afirma que adotou ações para reduzir a morte de policiais. Entre elas, cita a Resolução SSP 40/15, que determina o comparecimento das Corregedorias e dos comandantes da região no local onde um policial foi assassinado. Segundo a pasta, a medida “garante maior eficácia nessas investigações”.
“Como resultado, houve queda de 33,4% nos casos de PMs mortos em serviço. De abril de 2015 a fevereiro de 2016, foram registradas 10 ocorrências, ante 15 no período de abril de 2014 a fevereiro de 2015”, diz, em nota.
O recorte não considera o número de policiais assassinados fora de serviço nem as estatísticas de março e abril deste ano, ainda não publicadas no Diário Oficial. A secretaria também destaca que há uma “equipe especial” dedicada a investigações de mortes de PM.
No caso da transportadora, a SSP ofereceu recompensa de R$ 50 mil para quem fornecer informações que levem à identificação dos autores do crime.