Dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) confirmam que o principal obstáculo à adoção no País é o descompasso entre os candidatos à paternidade e o perfil das crianças e adolescentes que vivem nos abrigos. Cerca de 80% das pessoas dispostas a realizar uma adoção desejam uma criança com até três anos de idade, mas só 7% dos menores cadastrados estão nesta faixa etária. Apenas 1% das famílias aceita acolher uma criança com mais de dez anos.
Outros fatores dificultam ainda mais que uma criança deixe de viver em um abrigo. A maioria das famílias (86%) deseja adotar apenas uma criança. Mas 26,2% possuem irmãos. Cerca de 41% dos possíveis pais aceitam somente crianças brancas, um pré-requisito que exclui 63,5% das crianças presentes no cadastro. “Quando consideramos todas as variáveis juntas entendemos porque tantas crianças e adolescentes não encontram uma família”, afirma Francisco Oliveira Neto, vice-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e um dos idealizadores do CNA.
Segundo o cadastro, criado e gerenciado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há atualmente no Brasil 22.859 pessoas dispostas a adotar. O banco de dados também inclui 3.519 crianças e adolescentes que poderiam ser adotados. Pela Lei Nacional de Adoção, aprovada anteontem no Senado, o CNA será o cadastro unificado para adoção no País. O texto depende ainda de sanção presidencial. Para Oliveira Neto, o número de pretendentes à adoção representa com fidelidade a procura no Brasil. Ele diz que a maioria das família que realmente deseja uma criança está cadastrada no CNA.
Por outro lado, o número de crianças e adolescentes é subestimado, diz ele. Muitos juízes só tornam um menor disponível para adoção, desligando-o dos pais biológicos, quando surge uma família interessada em recebê-lo. E, sem a destituição dos laços com os pais biológicos, a criança não aparece no cadastro. Segundo estimativa de Oliveira Neto, deveriam constar na lista 8 mil nomes de crianças e adolescentes.