Exército envia tropas para região de Altamira

Altamira – Tropas do Exército começaram a chegar ontem à região central do Pará onde o conflito pela terra vitimou a irmã americana, naturalizada brasileira, Dorothy Stang morta a tiros no sábado. Com a Polícia Federal e as Polícias Militar e Civil do Pará, as Forças Armadas vão ajudar nas buscas aos assassinos e fazer o desarmamento em dez municípios ao longo das rodovias Transamazônica e BR-163, a Cuiabá-Santarém. Os militares também darão suporte às operações de expulsão de grileiros e restabelecimento da ordem pública nessa região, onde a ausência do Estado criou um ambiente de terra sem lei. Ontem à tarde, desembarcaram no aeroporto de Altamira os primeiros 140 homens, trazidos de Belém e Manaus em aviões Hércules e helicópteros da Força Aérea Brasileira. Eles foram alojados no 51º Batalhão de Infantaria de Selva e estão de prontidão com os 600 militares da corporação. Os militares chegaram com materiais para confronto e dispersão de motim, como escudos, capacetes com visor, cassetetes e armas, além de bombas de gás. E até cães da raça rottweiler para ajudar em buscas e capturas. Outras tropas estão se deslocando desde Marabá e Belém por terra. Parte delas ficará em Anapu, principal foco de tensões, onde a religiosa foi assassinada. Ao todo, o Exército vai concentrar cerca de dois mil homens na região central do Pará. Os comandantes dos quartéis da região amazônica passaram a tarde reunidos em Manaus acertando detalhes da operação. Como não têm poder de polícia, as tropas dependem de um decreto ou ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para entrar em ação, explicou o capitão Dimas Nascimento Barbosa, do 51º BIS. "Ele é o comandante supremo das Forças Armadas e estamos prontos a cumprir a missão que nos for determinada", disse.

Dorothy foi morta com seis tiros – três no tórax, um na nuca, um na cabeça e outro na mão esquerda, na qual segurava uma Biblia. Os tiros foram disparados por dois pistoleiros, identificados como Eduardo e Fogoió, a mando de um grileiro que ocupava lotes irregularmente em assentamento do projeto de desenvolvimento social (PDS). O crime teria sido encomendado pelo fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, vulgo Bida. A prisão dos quatro foi decretada pela Justiça, mas estão foragidos. Em Anapu, as polícias Federal, Militar e Civil procuram os assassinos desde domingo.

ONU acompanha investigações

Genebra – A Organização das Nações Unidas está acompanhando as investigações sobre a morte da irmã Dorothy Stang, dia 12, em Anapu, Pará. Hina Jilani, representante especial do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para os Direitos Humanos, foi informada sobre o assassinato e está avaliando a situação. A missionária trabalhava há décadas com pequenos produtores. A ONU indica que, por enquanto, a representante de Annan prefere aguardar as investigações conduzidas no Brasil. Porta-vozes da ONU indicam que Jilani tem observado que o Brasil estaria "cumprindo suas obrigações nas investigações e na tentativa de esclarecer o caso". Uma das funções de Jilani é cobrar explicações dos governos em caso de assassinatos ou ameaças a pessoas que são consideradas defensoras dos direitos humanos. Isso ainda poderá ser feito. A questão da proteção de ativistas no Brasil é um tema que a ONU sempre destaca quando se fala sobre a situação do País. Nos últimos anos Jilani já foi obrigada a pedir em várias ocasiões explicações ao governo brasileiro sobre mortes. Um exemplo foi o caso dos assassinatos de duas testemunhas em 2003.

161 pessoas marcadas para morrer

Brasília – A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou ontem uma nota na qual diz que a morte da missionária americana Dorothy Stang, ocorrida no sábado passado no Pará, "denuncia a absurda estrutura rural de concentração da terra em grandes propriedades". Junto com a nota, a CPT divulgou uma lista com 161 nomes de pessoas que estariam sendo ameaçadas de morte por causa de conflitos agrários. A nota, assinada por Dom Tomás Balduíno, presidente da CPT, e pelo bispo prelado do Xingu, Erwin Krautler, diz que "o latifúndio, mascarado de agronegócio e modernidade, quer manter sua estrutura fundiária porque isso lhe garante a manutenção de seu poder hegemônico e seus privilégios sobre todas as instâncias do Estado brasileiro". Segundo a CPT, "fazendeiros, madeireiros, plantadores de soja, acobertados pelo discurso da produtividade, avançam sobre as terras públicas e promovem a grilagem de terras e a devastação das florestas". O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Ernesto de Salvo rebateu as declarações: "Dos homens de Deus se espera uma mensagem fraterna, não declarações como essas".

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