?Exército? de 30 mil sambistas levanta a Marquês de Sapucaí

Uma chuva fora de hora incomodou, mas atrapalhou pouco o primeiro dia de desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio, espetáculo protagonizado por quase 30 mil sambistas distribuídos por sete agremiações, que se apresentaram para um público de mais de 50 mil pessoas domingo. Ontem à noite, mais sete desfiles fecharam o desfile de 2006. Amanhã, em apuração no Sambódromo, será conhecida a escola campeã deste ano.

O Acadêmicos do Salgueiro venceu o desafio de abrir a festa com muito luxo e garra no enredo Microcosmos: o que os Olhos não Vêem, o Coração não Sente, de Renato Lage. Trouxe o charme de mulheres bonitas como Carol Castro, sua madrinha de bateria, Luana Piovani, na frente do terceiro carro, o do corpo humano, e Nívea Stelman, que veio vestida de médica, como toda a diretoria

A escola levou 4.000 pessoas em 27 alas, vestidas em tons do roxo ao laranja claro. A bateria imitou batimentos cardíacos, a comissão de frente desenhou teias de aranha, e os carros alegóricos, contando o ciclo da vida, encantaram, especialmente o dos insetos e o da morte, com uma rave de mortos-vivos.

O forte temporal prejudicou o desfile da Acadêmicos da Rocinha, que apresentou o enredo Felicidade não tem Preço, uma crítica ao valor excessivo que se dá ao dinheiro, mas não empolgou. Passada a euforia com a madrinha de bateria, Adriane Galisteu, o público não se levantou para aplaudir a comissão de frente nem as primeiras alas. O terceiro carro da escola parou, e abriu-se um buraco entre as alas, prejudicando a evolução.

Além da chuva, que "esfriou" passistas da Rocinha e o público, o grande problema foi o tamanho dos carros alegóricos, que passaram com dificuldade sob o Viaduto São Sebastião, na área da concentração. Um deles ficou preso num fio de alta tensão, provocando atraso ainda maior.

Chuva inesperada

A chuva atrapalhou a concentração da Imperatriz Leopoldinense, mas parou assim que a escola de Ramos entrou na avenida com o enredo Um por todos e todos por um, contando a saga do revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi, herói da Revolução Farroupilha e da unificação italiana, narrada pelo escritor francês Alexandre Dumas. Trouxe cenas épicas, desde a comissão de frente, formada por mosqueteiros montados em seus cavalos. No carro abre-alas, o ator Murilo Rosa protagonizava o desfile e, nos seguintes, encenavam-se passagens da vida de Garibaldi, como o transporte de um navio pela serra gaúcha e a Guerra dos Farrapos.

A bateria de Jorjão empolgou, e sua madrinha, Luciana Gimenez, estava com um comportado biquíni de cristais, escoltada pelo namorado, o empresário Marcelo Carvalho, sócio da Rede TV!, onde ela tem um programa. Dividiu as arquibancadas. Alguns vaiaram porque ela não sambava no pé, mas a maioria aplaudiu.

O Estado do Espírito Santo passou pela Marquês de Sapucaí, cantado pela Caprichosos de Pilares, que misturou culinária, artesanato e tradições capixabas com índios e chocolate, como diz o samba da escola. A rainha da bateria, a belíssima Mel Britto, substituiu à altura Luma de Oliveira, que se afastou da escola poucas semanas antes do desfile.

A agremiação trouxe 36 índios de duas tribos do município de Aracruz (ES) e a loura apresentadora Angélica, que não desfilava havia anos, entrou na onda indígena, vestida de botocuda, no carro abre-alas. Além do tema indígena, o carnavalesco Chico Spinoza mostrou artesanato em barro, típico do Espírito Santo, a famosa moqueca capixaba, as festas religiosas e baianas vestidas de Nossa Senhora da Penha, além da geografia entre o mar e a montanha. No abre-alas, três acrobatas passaram sem tocar o chão, a três metros da pista, numa interessante coreografia aérea.

Quinta escola de domingo, a Unidos de Vila Isabel contagiou a Marquês de Sapucaí com um enredo sobre a América Latina, apesar da falta do compositor Martinho da Vila, seu presidente de honra. Ele não foi porque seu samba foi desclassificado, mas sua filha, a cantora Martinália, desfilou na ala dos compositores. O carnavalesco Joãosinho Trinta, que sofreu um derrame há dois anos, quando estava criando um enredo para a Vila, abriu o desfile numa cadeira de rodas e foi aplaudidíssimo, do início ao fim.

Beija-Flor busca o tetra

Para traduzir a latinidade, a Vila esbanjou colorido, desde o carro abre-alas, com pirâmides e serpentes astecas. A novidade ficou com os destaques, que desciam da alegoria e sambavam na pista durante o refrão do samba. Louzada destacou com o enredo "Soy loco por ti, América" não homenageava um país específico, mas a integração das culturas na região. O último carro, com uma estátua de Simón Bolívar de 12 metros de altura, tinha também alegorias em formato de coração cercadas por figuras de personagens latino-americanos, entre eles o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, a argentina Eva Perón, mulher do presidente Juan Domingo Perón, e o revolucionário argentino Che Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana.

A Acadêmicos do Grande Rio fez um desfile hi-tech, com carros alegóricos que abriam e fechavam, acrobatas desafiando a gravidade e alegorias muito bem acabadas. O tema era a Amazônia. Não faltaram índios, criaturas da floresta e conquistadores portugueses e espanhóis. A rainha da bateria, Suzana Vieira, desfilou prometendo que era seu último ano no posto.

O carnavalesco Roberto Szaniecki fez ocas indígenas se transformarem em templos incas e colocou jacarés e serpentes estilizados para andar em plena Sapucaí. Havia também alas coreografadas, alpinistas e artistas de circo em performances que os deixaram de cabeça para baixo. O Teatro Amazonas foi representado num belo cenário quase todo branco, decorado com flores. A escola de Duque de Caxias passou impecável e chegou à Apoteose já com dia claro. Como de costume, entre seus 3.800 integrantes havia muitos artistas, como Isabel Fillardis, Raul Gazolla, Hugo Gross, Gilberto Barros e Castrinho. Zeca Pagodinho um portelense, saiu na agremiação, convidado pelo presidente de honra, Jaider Soares, porque mora em Xerém, distrito de Caxias.

A Beija-Flor de Nilópolis fechou o desfile com dia claro, tentando um tetracampeonato inédito no Sambódromo. Sua apresentação quase perfeita chegou à dispersão ovacionada. Com o enredo sobre a água, em referência à cidade mineira de Poços de Caldas, uma instância hidromineral, soltou fogo e fumaça durante o desfile e encerrou a apresentação com um carro alegórico que simulava chuva.

A comissão de frente, com 15 componentes, recriava o universo, com planetas, o Sol, a Lua e os quatro elementos. Na concentração, a porta-bandeira Selminha Sorriso mostrava-se confiante na vitória, mas garantia que ia dançar muito mais do que nos outros anos.

Apesar da empolgação, o presidente da Beija-Flor, Farid Abrão, preferiu a cautela, quanto ao tetra: "Vamos esperar até terça-feira (hoje)", dizia, ao ser saudado pela vitória.

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