São Paulo
– A Executiva Nacional do PT aprovou ontem, em São Paulo, por 12 votos a cinco, uma resolução de apoio à proposta do governo de elevar o valor do salário mínimo para 260 reais. Apesar dos votos contrários, o presidente nacional do partido, José Genoino, disse que a executiva nacional “fechou questão” sobre o valor e que a bancada petista no Congresso deve acatar a decisão.Genoino diz que bancada do PT não pode votar contra MP do mínimo “Pela resolução da Executiva, os deputados não podem votar contra a MP. Agora, essa resolução será levada para a bancada. Mas, a partir dela, e confirmada pela bancada, os deputados não podem votar contra. Politicamente, e pelas normas do PT, não podem votar contra. A resolução decide, determina. Ela é muito clara, é só ler os termos dela.”
Genoino afirmou esperar que “todos ou quase todos os parlamentares” votem no mínimo de 260 reais, mas se negou a responder se os petistas que votarem contra a administração serão punidos. “Serei paciente nesse diálogo, nesse convencimento”, afirmou, após a reunião. Ainda nesta semana, ele deve reunir-se com as bancadas da legenda na Câmara dos Deputados e no Senado para apresentar, formalmente, a deliberação da executiva.
Ao lado de Genoino, o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), respaldou as declarações em favor da aprovação do mínimo de 260 reais, mas admitiu as dificuldades. “É evidente que há uma tensão na bancada”, disse, referindo-se à resistência de um grupo que é contra o valor proposto pelo Poder Executivo e que apresentou três destaques que propõem uma elevação superior (280, 295 e 300 reais).
“Vamos trabalhar para que haja unanimidade do voto”, declarou o presidente nacional do PT. “Não está na nossa agenda discutir punição.” Além de ter “fechado a questão” sobre o aumento, a determinação da comissão executiva reconheceu, formalmente, que os parlamentares petistas “têm o direito de expressarem suas opiniões individuais sobre o reajuste do salário mínimo e de formularem suas justificativas”.
Na prática, isso implicaria em seguir a decisão da sigla votar com o Executivo e, durante a votação, fazer um discurso contrário ao valor do aumento. Defensor de um mínimo de 300 reais, o deputado Ivan Valente (PT-SP) participou do encontro na condição observador, uma vez que não é membro, e, ao sair, demonstrou que não será fácil convencer todos os petistas a votarem com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Rebeldes preparam o contra-ataque
Brasília
– A decisão da Executiva do PT de fechar questão em torno do salário mínimo de 260 reais não garante a unidade dos deputados do partido na votação da medida provisória (MP) que fixou esse valor. Hoje, um grupo de deputados de posições mais à esquerda do partido reúne-se para traçar uma estratégia com o objetivo de tentar alterar esse valor, fazendo pressão no governo. Alguns deputados que insistem na negociação com o Palácio do Planalto e com a equipe econômica admitem em conversas reservadas, que poderão votar contra a MP, se não houver alteração no valor.“Esse mínimo de 260 reais é impossível”, disse a deputada Maria José da Conceição Maninha (PT-DF), integrante do chamado grupo dos 30. Ela considera que a insatisfação no partido é generalizada. Formalmente, foram apresentadas duas emendas à MP por grupos petistas. Uma delas, assinada por oito deputados do PT da corrente Articulação de Esquerda, propõe elevar o valor para 295 reais e a outra, da deputada Dra. Clair (PT-PR) com apoio de outro grupo petista, sugere um mínimo de 280 reais. A deputada integra a corrente Articulação, a mesma do presidente nacional do PT, José Genoino.
Maninha afirmou que, se o grupo se fortalecer com um número maior de deputados, o governo poderá ceder. “Se formos um grupo de 40 deputados dizendo não ser possível esse valor, o governo vai parar para discutir”, disse. Ela afirmou ainda que deputados de outros partidos da base serão procurados para engrossar o coro com o objetivo de aumentar o valor fixado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Enquanto isso, o Congresso vai evitar assuntos complexos, como a votação do salário mínimo, até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegar da viagem que está fazendo à China. O presidente Lula recomendou que a discussão do novo salário mínimo ficasse para depois da sua volta, em 30 de maio, até que os partidos da base de sustentação se rearticulassem após a emenda da reeleição.