Um laudo divulgado pela Secretaria do Ambiente apontou que a proliferação excessiva de uma alga causou a morte de 86,8 toneladas de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio. De acordo com a secretária do Ambiente, Marilene Ramos, a reprodução acelerada das plantas ocorreu devido à combinação do calor com as chuvas de verão. Ela negou que o lançamento de esgoto causou o desastre ambiental. Biólogos discordam e alertam para a possibilidade de novas catástrofes.
“Quando chove, o sistema extravasa e, junto com as águas pluviais, vem o esgoto. Mas a carga que o corpo hídrico recebe é pequena e não causaria este estrago”, disse Marilene. O laudo foi produzido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pelo Laboratório de Ficologia do Museu Nacional. A secretária disse que a toxina produzida pela alga Chrysochromulina produz alterações nas guelras e lesões epiteliais nos peixes. Segundo ela, os animais perdem a capacidade de absorver oxigênio, vão à superfície em busca de ar e morrem.
Marilene defendeu como solução para a Lagoa o projeto da empresa EBX, do milionário Eike Batista, que por R$ 40 milhões instalaria um sistema de tubulação para bombear a água do mar e aumentar a oxigenação. O Ministério Público do Rio questionou os órgãos públicos sobre a mortandade e deu o prazo de dez dias para as respostas.
Os promotores solicitaram informações sobre a análise da qualidade da água da Lagoa, a necropsia dos peixes, a análise qualitativa e quantitativa sobre as algas e o relatório do monitoramento da qualidade da água referente aos últimos 24 meses. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) se comprometeu a responder as questões em 30 dias. A Rio Águas, por sua vez, apresentará, em dez dias, o cronograma para o início do processo de dragagem.
Contraponto
O oceanógrafo David Zee, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, não concordou com as explicações da secretária para a mortandade. “Se a tese dela está correta, porque não os peixes não continuam morrendo?”, questionou. Ele acredita que a Lagoa está “desequilibrada e fragilizada pela pressão urbana” e que, se as altas temperaturas continuarem, outro desastre ambiental pode ocorrer.
“Pode ser que a Secretaria tenha conseguido impedir despejo do esgoto da cidade formal na Lagoa, mas e o esgoto da favela? O passivo do lançamento do esgoto nas gestões anteriores também colabora, pois estão no fundo lodoso revolvido sempre pelas chuvas fortes”, disse Zee, que acrescentou não ter encontrado registro sobre a alga descrita pela secretária.