Foto: Agência Brasil |
Luiz Gushiken: ex-ministro era do ?núcleo duro? e depois caiu no ostracismo, com os escândalos dos Correios. |
Alvo de investigação no Tribunal de Contas da União (TCU), o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) do governo, Luiz Gushiken, pediu demissão do cargo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou. Tão poderoso quanto o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) nos dois primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas muito desgastado depois do escândalo do mensalão, das suspeitas levantadas pela CPMI dos Correios de irregularidades na distribuição da propaganda do governo e de interferência indevida nos fundos de pensão, Gushiken foi afastado pelo presidente da Secretaria da Comunicação de governo em 2005. Passou a se dedicar a assuntos estratégicos e viveu uma fase de ostracismo político.
Nos bons tempos, compunha o chamado ?núcleo duro? – que praticamente dava a linha política do governo Lula. Este grupo era formado por Gushiken, José Dirceu, Antônio Palocci (Fazenda) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência). Do núcleo, sobrou apenas Dulci, já que Gushiken parou de freqüentar o gabinete do presidente Lula.
Luiz Gushiken foi o coordenador de três das cinco campanhas de Lula. Foi convidado a fazer a da reeleição, mas disse não. Esperou o resultado do segundo turno da eleição e, no dia 30, avisou às pessoas próximas que deixaria o governo. Na última sexta-feira encaminhou a carta de demissão a Lula, dividida em duas: uma para o amigo Lula e outra para o presidente.
De acordo com informações de integrantes do NAE, ao sair do governo, Gushiken tenta chamar a atenção do PT para o novo momento político do país, o de que o segundo mandato de Lula será de coalizão e não dominado pelos petistas. Portanto, é preciso abrir espaços para os partidos aliados. O ex-colaborador de Lula disse ainda aos auxiliares que o fato de sair lhe dá legitimidade para cobrar do PT que controle sua fome por cargos, o que não conseguiria fazer se permanecesse no governo. Assume interinamente o cargo Oswaldo Oliva Neto, atual secretário-geral do NAE e irmão do senador Aloisio Mercadante.
Na carta de demissão, Gushiken diz que está orgulhoso e honrado com a vitória do presidente para um segundo mandato. Alerta o governo para não esquecer a crise política deflagrada há dois anos, com o escândalo do mensalão. ?Esta experiência impõe na agenda uma profunda reforma política e a contínua modernização institucional, como forma de possibilitar maior transparência das atividades públicas e menor suscetibilidade do aparelho estatal às vicissitudes éticas inerentes ao jogo da política.?
Quer espaço
A exemplo da bancada do PT na Câmara, os senadores petistas querem continuar com espaço em áreas estratégicas do governo. A afirmação foi feita ontem pela líder do partido no Senado, Ideli Salvatti (SC). ?Não acho que temos de brigar apenas por espaços aritméticos, mas estratégicos?, disse a senadora, relacionando, por exemplo, os ministérios da Fazenda e da área social. Ela admite que outro partido pode ficar à frente do Ministério das Cidades, mas entende que o PT precisa ser mantido no comando da Caixa Econômica Federal (CEF), já que a instituição é responsável por viabilizar as políticas públicas traçadas por essa pasta. Pela análise de Ideli Salvatti, que se baseia em sua própria intuição, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, pode ser deslocado para outro cargo. Mas a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, deve ser mantida na Casa Civil. ?Ela é imexível?, observou a senadora.