Salvador

– A ex-namorada do senador Antonio Carlos Magalhães, Adriana Barreto prestou ontem depoimento na Polícia Federal em Salvador, comprometendo o principal político baiano e o colocando na rota de ter o mandato cassado. Segundo Adriana, ACM lhe confessou: “Eu fiz o grampo”. A mesma confissão o senador fez a um jornalista da revista Isto É. O senador também mostrou à namorada transcrições de grampos de conversas de alguns adversários de ACM na política baiana, como uma em que os deputados Jonival Lucas (ex-PPB) e Leur Lomanto (ex-PFL) se referiam ao deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), arqui-rival do senador, como “agatunado?.

Adriana também deixou claro que acumulou vários documentos que registram a convivência com o senador, como recibos, contas de hotel e de restaurante, passagens. “Também guardei muitas cartas”, disse. Adriana contou aos procuradores que em sua convivência com o senador teve duas conversas com ele sobre escuta telefônica. A primeira, há cerca de dois anos, ocorreu quando os dois estavam juntos.

A segunda conversa ocorreu em meados do ano passado, quando a advogada já havia rompido com ACM e se unira a Plácido Faria. Desta vez, ACM foi explícito. Contou que tinha uma relação de políticos grampeados e que decidira incluir Plácido nas escutas. “Eu vou grampear seu namorado. Vai ser para seu bem”. A advogada disse que mais de uma vez ACM telefonou para ler trechos das transcrições para Adriana. Ela contou que o senador mandava tirar fotografias e filmá-la quando saía à rua.

Apesar de o cerco estar se fechando mais rapidamente do que se pensava sobre ACM, o senador Antônio Carlos Magalhães nega que tenha afirmado a um repórter da revista “IstoÉ” que grampeou o deputado e inimigo político Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e disse que não irá “fazer o jogo de seus adversários”. Ele também negou que pretenda renunciar.

Segundo o corregedor do Senado, senador Romeu Tuma (PFL-SP), caso ACM tenha mesmo grampeado Geddel, ele terá de se explicar: “Ele estaria se auto-incriminando”, disse Tuma. Em Brasília circula a versão de que a Polícia Federal já tem indícios que ligam ACM ao escândalo dos grampos baianos. O inquérito da PF pode servir de base para a instalação de um pedido de cassação do mandato de ACM no Conselho de Ética do Senado.

A desistência em concorrer à presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado é apenas um dos sintomas de enfraquecimento do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), acusado de ter mandado grampear 232 telefones de desafetos em seu estado. As dificuldades que enfrenta em Brasília representam apenas um lado do declínio do cacique da Bahia. No estado, embora tenha saído vitorioso das urnas com a eleição de todo o seu grupo político, os pilares do seu poder começam a ruir. Já não tem mais controle sobre o Judiciário, perdeu o monopólio absoluto dos cargos federais na Bahia e assiste ao crescimento da oposição.

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