O ex-ministro dos Transportes e prefeito de Uberaba, no Triângulo Mineiro, Anderson Adauto (PL), disse ontem, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do "Mensalão", que recebeu R$ 410 mil do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e não R$ 1 milhão, como informou o assessor José Luiz Alves. Os recursos foram usados para pagar dívidas de campanha.
Com esta declaração, o ex-ministro admitiu a existência de caixa dois. E, foi além, ele afirmou ter feito caixa dois em todas as campanhas que disputou, inclusive em outras duas da qual participou como coordenador. O ex-ministro confirmou na reunião ter usado o dinheiro do PT para pagar dívidas da campanha para deputado federal em 2002, mas disse não ter como comprovar os gastos. O dinheiro não foi declarado ao Imposto de Renda nem à Justiça Eleitoral.
O ex-ministro justificou a existência do caixa dois à informalidade da economia brasileira. "O índice de informalidade na economia brasileira é muito alto e isso se projeta na classe política", argumentou o ex-ministro. Ele, no entanto, não acha que merece ser punido com rigor. Porque a prática do caixa dois é regra e não exceção na política brasileira, alegou Adauto.
Fechando
"Em todas eleições você fica com dívida para trás. Isso é natural. Eu fechei a campanha de 2002 como fechei as outras oito campanhas que disputei", afirmou. "Não quero me eximir da responsabilidade, mas é cinismo quem disser que não é assim. É claro que isso é irresponsabilidade, mas eu estou pagando por isso", afirmou. Adauto disse que a classe política está sendo extremamente dura consigo própria e que essa atitude está correta, pois servirá "para dar exemplo".
Ele observou, no entanto, que não tem conhecimento de nenhuma campanha política que consiga fechar as contas sem o uso de "caixa dois". Em julho, Adauto já havia confirmado que Delúbio o ajudou a pagar uma dívida de campanha com dinheiro sacado no Banco Rural. "Não vejo nenhuma irregularidade em ser ajudado para pagar dívidas de campanha", disse na ocasião.
Anderson Adauto assumiu o Ministério dos Transportes no início do governo Lula e permanceu até março de 2004. Segundo seu assessor José Luiz Alves, que diz ter recolhido o dinheiro das contas de Valério a pedido de Adauto quando este ainda era ministro, os recursos teriam sido usados para cobrir gastos da campanha dele para deputado. O ex-ministro dos Transportes e prefeito de Uberaba disse também que recebeu os R$ 410 mil por intermédio do ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT, Delúbio Soares, o que provocou muitas críticas dos parlamentares presentes à reunião.
A verba, afirmou, serviu para pagar dívidas da campanha de 2002 não registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A contradição nos valores recebidos, segundo Adauto, só com o tempo poderá ser explicada. Valério, no entanto, afirma que ex-ministro dos Transportes e prefeito de Uberaba recebeu R$ 1 milhão.
A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), integrante da CPMI do Mensalão, afirmou que o ex-ministro dos Transportes, pode sofrer as conseqüências de ter praticado crimes eleitorais. "Ele pode ser cassado, processado e pode até ir para a cadeia", afirmou a deputada. A CPMI ouviu ainda ontem o ex-secretário de Finanças e atual secretário de Assuntos Institucionais do PT do Rio Grande do Sul, Marcelino Pies. O nome dele está na lista de sacadores das contas do empresário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o operador do suposto mensalão.