Ex-metalúrgico vai governar o Brasil

Foram quatro candidaturas consecutivas. Em 1989, ele quase conseguiu. Cinco anos depois, foi derrotado não por um candidato, mas por um plano econômico. Há quatro anos, perdeu para o primeiro presidente que concorreu à reeleição. Em janeiro de 2003, depois de 13 anos de espera, o ex-torneiro mecânico e ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva subirá a rampa do Palácio do Planalto e receberá a faixa de presidente da República.

De 1989 a 2002, o caminho foi longo. Lula percorreu o Brasil e o mundo e conquistou reconhecimento. Como líder de esquerda, foi recebido na China e tem uma relação de amizade pessoal com os presidentes Fidel Castro, de Cuba, e Hugo Chávez, da Venezuela, além do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela . Este ano, participou do último comício da campanha do ex-primeiro-ministro socialista da França, Lionel Jospin.

No Brasil, Lula circula à vontade entre empresários, banqueiros e intelectuais que antes torciam o nariz para a sua falta de educação formal. Passou de símbolo de um perigo a líder político, apesar de ter cumprido um único mandato eletivo: o de deputado federal na Constituinte. Nesse meio tempo, foi adorado, temido, respeitado, difamado. Mais do que presidente de honra, Lula é a estrela, o ícone maior do Partidos dos Trabalhadores, o PT.

Serra parabeniza

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, telefonou ontem à noite para o adversário petista, Luiz Inácio Lula da Silva, reconhecendo a derrota e parabenizando Lula pela vitória no segundo turno das eleições presidenciais. A informação é de um dos coordenadores da campanha de Lula, Gilberto Carvalho, que afirmou que a ligação durou cerca de três minutos e foi muito amistosa.

Segundo ele, Serra prontificou-se a conversar com Lula assim que retorne de uma viagem a local ainda não revelado, onde deverá descansar após a campanha. “Foi uma conversa marcada pela fidalguia e camaradagem”, declarou Carvalho.

Nordestino e pobre

Luiz Inácio da Silva nasceu em Garanhuns, em Pernambuco, no dia 27 de outubro de 1945, data do registro da Certidão de Nascimento. Mas Lula prefere adotar a certeza da mãe, que garantiu que o filho veio ao mundo no dia 6 do mesmo mês. Curiosamente, são as datas do primeiro e segundo turnos da sucessão de 2002, a quarta disputada pelo nordestino.

De uma família de lavradores pobres, Lula é um dos oito filhos de Aristides e Eurídice. A mãe é apontada como a pessoa que mais marcou sua infância. Quando Eurídice estava grávida de Lula, o pai deixou a família em Garanhuns para tentar a vida em Santos, São Paulo. Em 1956, dona Eurídice decidiu seguir o marido. Vendeu a terra que tinha, colocou a família num pau-de-arara e desceu rumo à cidade portuária. Em Santos, a decepção. Aristides tinha se casado novamente com uma prima da mãe de Lula.

Lula é casado há 28 anos com Marisa Letícia Lula da Silva, sua segunda mulher. A primeira, Maria de Lourdes da Silva, morreu em 1970. O novo presidente tem cinco filhos: Marcos Cláudio, de 31 anos, Lurian, 29, Fábio Luiz, 28, Sandro Luiz, 23, e Luiz Cláudio, 17.

O petista estudou até a 5ª série do antigo Ensino Fundamental, antigo curso primário. Foi numa escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) que obteve o diploma técnico de torneiro mecânico. Quando exercia a profissão, perdeu o dedo mínimo da mão esquerda numa prensa. A profissão abriu o caminho para o futuro líder sindical e da esquerda brasileira.

Lula chorou quando soube do resultado

Quando saiu o resultado da pesquisa de boca-de-urna indicando sua vitória, Luiz Inácio Lula da Silva não se conteve: caiu no choro feito criança. Numa elegante suíte do Hotel Meliá, Lula abraçou a mulher, Marisa, os cinco filhos, amigos e dirigentes do PT. Ao presidente do partido, deputado José Dirceu (SP), ele dedicou um afago especial. “É a vitória da sua geração, Zé, da geração de 1968”, disse.

A festa petista foi filmada pelo publicitário Duda Mendonça, marqueteiro da campanha. Passava um pouco das 17 horas. “Foi uma emoção muito grande”, afirmou o deputado Aloizio Mercadante (SP), um dos presentes. “Todo mundo se abraçou e chorou.” Do Meliá, Lula seguiu para o Hotel Intercontinental, nos Jardins.

Numa confraternização reservada, Duda se beliscava o tempo todo. “Parece que estou sonhando e não quero acordar”, dizia ele. Os convidados, cerca de 700, ocupavam seis salas. Cada uma delas tinha uma televisão de 29 polegadas. A festa foi regada a Coca-Cola e água mineral.

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