No segundo depoimento prestado à CPI dos Correios, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato disse ontem que entendeu "como uma ordem" a recomendação do ex-ministro Luiz Gushiken para que assinasse documento aprovando repasse de R$ 23,3 milhões da empresa Visanet para a agência de publicidade DNA, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Pizzolato, que assinou o despacho em maio de 2003, revelou ter consultado pessoalmente o então ministro Gushiken, chefe da Secretaria de Comunicação de Governo (Secom).
"O ministro Gushiken disse: ‘Assina que não há nenhum problema’. Entendi aquilo como uma ordem. Eu não ia questionar o ministro", afirmou Pizzolato, que se eximiu de qualquer responsabilidade na administração dos recursos e no fechamento de contratos de publicidade do Banco do Brasil e da Visanet. A Visanet tem 31% de participação acionária do Banco do Brasil e repassou, como antecipação de pagamento por serviços prestados, um total de R$ 58,3 milhões à DNA.
A CPI tem indícios de que R$ 10 milhões foram desviados para o PT. Em 2003, foram repassados da Visanet para a DNA os R$ 23,3 milhões, com autorização de Pizzolato e do então diretor de Varejo do Banco do Brasil, Fernando Barbosa de Oliveira. Os R$ 35 milhões foram depositados pela Visanet na conta da DNA em março de 2004.
O depoimento do ex-diretor foi tão confuso e deixou tantas dúvidas que os parlamentares o alertaram para a possibilidade de ser preso em flagrante pela CPI. Embora seja investigado, Pizzolato depôs na condição de testemunha e assinou um compromisso de dizer somente a verdade. Ele teve negado um pedido de habeas-corpus encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que seria "importante" uma acareação entre Pizzolato e Gushiken, pois o ministro nega ingerência na publicidade da Visanet. O pedido de acareação entre os dois, feito pelo relator adjunto, Eduardo Paes (PSDB-RJ), ainda não foi votado.
Pizzolato não convenceu os parlamentares quando disse que só soube do aporte à DNA quando recebeu a nota técnica que deveria assinar. "A Diretoria de Marketing do Banco do Brasil era prestadora de serviço. Não tinha contato com a Visanet, quem tinha contato era a Diretoria de Varejo. Os pagamentos (dos contratos de publicidade do BB) eram feitos pela Diretoria de Logística. Repasses de recursos não eram da minha alçada", disse Pizzolato reiteradas vezes.
Indagado por que, então, tinha de assinar a autorização do aporte à DNA, Pizzolato disse que sua diretoria tinha que "operacionalizar" as campanhas publicitárias, mas emendou: "Operacionalizar por meio da Diretoria de Varejo".
Foi quando Eduardo Paes perdeu a paciência: "Não é possível que fiquemos como paspalhos ouvindo tanta mentira." E, lembrando a possibilidade da prisão em flagrante, disse ao relator: "Não sei se o senhor não deveria começar a aplicar as regras necessárias para os depoentes sem habeas-corpus. Não consigo ouvir calado coisas tão absurdas."
Até o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS) em geral comedido nos comentários sobre depoimentos, disse a Pizzolato: "O que V.Sa. passa ao longo do depoimento é que o Banco do Brasil era uma verdadeira barafunda, uma Torre de Babel o que não é. O Banco do Brasil é uma grande instituição", afirmou Delcídio.