Brasília (Agência Câmara) – A Receita Federal encontrou indícios de irregularidades nas declarações de renda de 17 contribuintes, entre os 100 que estão sendo investigados, por terem alguma relação com o esquema de caixa 2 montado pelo empresário Marcos Valério de Souza, operador do suposto esquema do mensalão. A informação é do coordenador-geral de Fiscalização da Receita Federal, Marcelo Fish, que participou de reunião reservada da CPI dos Correios. Dos 17 investigados, 12 casos têm relevância tributária. Entre eles, o do ex-presidente do PT, José Genoino; do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do ex-secretário-geral do partido, Sílvio Pereira.
Os gastos de Delúbio Soares são os mais incompatíveis com sua fonte de renda. Desempregado desde julho, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que teve até o salário de R$ 1.300 de professor suspenso pelo governo de Goiás, mantém padrão de vida elevado. Duas semanas atrás ele comprou por R$ 67 mil, à vista, um Ômega australiano blindado e continua contando com os serviços do motorista Jorgeval, que foi demitido do PT há cerca de um mês, mas ainda trabalha para ele. Além disso, o ex-tesoureiro do PT tem a assessoria jurídica de um dos escritórios mais caros do Brasil, o de Arnaldo Malheiros, que cobrou do PT R$ 300 mil para defender Delúbio até setembro. O vencimento do contrato foi em setembro mas, segundo funcionários do escritório, Malheiros continua trabalhando para o ex-tesoureiro.
José Dirceu na mira
Da investigação com os 100 contribuintes, 71 processos já foram abertos, sendo 48 de pessoas físicas e 23 de pessoas jurídicas. Fish informou também que, em 15 investigados, não foram encontrados indícios de irregularidades, entre eles o ex-diretor de departamento dos Correios, Maurício Marinho; a ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio, e a empresa Aeropostal.
A partir de agora, a Receita vai investigar mais 16 contribuintes (7 pessoas jurídicas e 9 físicas). O deputado José Dirceu (PT-SP) está nessa relação. ?No caso do José Dirceu, a Receita detectou a existência de irregularidades, mas a ação ainda não está instalada?, afirmou o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto (SP) que confirmou ter recebido R$ 6,5 milhões do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para a legenda, e a gerente-financeira da agência de publicidade SMP&B, Simone Vasconcellos, também foram notificados pela Receita. ?Todos os sacadores das contas de Marcos Valério estão sendo investigados pela Receita?, disse o sub-relator de Movimentação Financeira da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). A Receita ficou de encaminhar até amanhã à CPI um relatório completo com todas as investigações.
PSDB usou valerioduto
Brasília (ABr) – O tesoureiro da campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) à reeleição no governo de Minas Gerais, em 1998, Cláudio Roberto Mourão da Silveira, depôs ontem na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios. Mourão afirmou que recebeu um empréstimo de R$ 11 milhões do empresário Marcos Valério de Souza para financiar a campanha de Azeredo. Teriam sido dois empréstimos de R$ 9 milhões e de R$ 2 milhões. Desse dinheiro, segundo ele, R$ 1 milhão foi devolvido a Marcos Valério pago com recursos legalmente doados à campanha. ?Durante um período tive uma contabilidade paralela, uma caixa 2. Oficializei parte do dinheiro que recebi do Marcos Valério com recurso de outro doador.? A campanha de Azeredo declarou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) gastos de R$ 8 milhões, mas Mourão disse que foram gastos R$ 20 milhões.
O ex-tesoureiro afirmou aos parlamentares que Azeredo não sabia dos empréstimos e do caixa 2 de campanha. ?Não ofereci nenhuma vantagem (a Marcos Valério), mas com certeza, ele tinha uma expectativa de vantagem implícita na cabeça?, disse Mourão que foi secretário de Administração no governo de Azeredo. Segundo ele, Valério teria dito que a garantia para o segundo empréstimo, de R$ 9 milhões, eram os créditos que deveria receber do governo de Minas Gerais por ter prestado serviços de publicidade.
Marcos Valério e sacadores serão acareados
Brasília (Agência Senado) – O presidente da CPI do Mensalão, o senador Amir Lando (PMDB-RO), afirmou ontem que deve haver uma acareação entre o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e pessoas que teriam recebidos recursos de suas contas bancárias. Segundo Lando, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares também será convocado para participar da acareação.
O empresário Marcos Valério é indicado como o operador financeiro do esquema de distribuição de recursos a parlamentares, organizado em conjunto com o ex-tesoureiro do PT. No início das investigações sobre o ?mensalão?, o empresário forneceu listas com nomes de sacadores e beneficiários de recursos sacados das contas de suas agências de publicidade. Essas listas serviram de base para o relatório parcial das CPIs do Mensalão e dos Correios, que acusaram indícios de quebra de decoro no caso de 18 parlamentares.
Desses 18 parlamentares, um total de 14 já sofrem processo por quebra de decoro no Conselho de Ética, um já foi cassado (Roberto Jefferson) e outros três renunciaram (Carlos Rodrigues, José Borba e Paulo Rocha). O relator da CPI, o deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), afirmou que a acareação será importante para definir quais as quantias efetivamente repassadas pelo esquema apelidado de ?valerioduto?.