O ex-coordenador-geral de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde José Ricardo Pio Marins acusou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e outros integrantes da cúpula da pasta de ignorar uma epidemia de febre amarela neste ano no País e possíveis casos urbanos da doença, além de uso de vacina que pode trazer riscos à população. Marins deixou o ministério no último dia 1º de junho, após solicitar exoneração por causa de pressões que teria sofrido por discordar das ações contra a doença, segundo afirma. De acordo com o técnico, desde janeiro, ele e sua equipe vinham alertando superiores, sem sucesso.
"É uma epidemia, porque epidemia é qualquer aumento anormal de uma doença. Houve desde o início negação de um evento cientificamente definido como epidemia e na seqüência foram desconsiderados dados que indicam risco de uma das vacinas", disse Marins.
A febre amarela silvestre é uma doença febril, com altos índices de letalidade, causada por vírus transmitido nas matas pelo mosquito Haemagogus. Quando há transmissão nas cidades pelo mosquito da dengue, o Aedes aegypti, há febre amarela urbana.
Marins formalizou as acusações em documento encaminhado recentemente ao Ministério Público Federal e ao Conselho Federal de Medicina. Nele, solicita avaliação ética e legal da atuação do ministro Temporão, do secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Gerson Penna, e do diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica, Eduardo Hage.
O diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, disse considerar como ‘divergência natural’ os questionamentos feitos por seu ex-subordinado José Ricardo Pio Martins. Segundo o diretor, os questionamentos não foram levados ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que chegou a ir à televisão para negar que houvesse epidemia de febre amarela. "É natural que em situação de crise haja divergências", disse Hage.