Pelo menos na retórica, os europeus concordam que há benefícios na cooperação Sul-Sul para o mundo em desenvolvimento. Nessa quarta-feira (23), em Acra, o chefe da delegação da Comissão Européia na Conferência das Nações para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), John Clarke, defendeu a integração regional.
"A nosso ver, a integração regional pode ser um veículo importante para revitalizar as economias dos países dependentes de produtos básicos, construindo mercados mais amplos e atraindo investidores. Sem mencionar a maior estabilidade econômica e política resultante dessa integração", disse Clarke em sessão de debates com delegados do mundo todo.
O discurso, no entanto, destoa da prática. Na negociação de preferências tarifárias com países pobres, a União Européia tem imposto uma cláusula que determina a extensão, para o acordo, de qualquer vantagem concedida a outro país. A prática foi citada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seus discursos em Acra – para Lula, isso perpetua a dependência entre Norte e Sul e desestimula a cooperação entre as economias em desenvolvimento.
Para o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a cláusula é um desestímulo ao comércio Sul-Sul. "É pérfido", classificou o ministro em entrevista coletiva em Acra, na terça-feira (22). "Isso viola um princípio antigo do GATT que é a cláusula de habilitação, que permite aos países em desenvolvimento estabelecer preferências entre si".
Ele lembrou que a Aladi (Associação Latino-Americana de Desenvolvimento e Intercâmbio) é baseada nisso. "Se você faz uma cláusula em que torna obrigatória a extensão para países mais ricos, você tira o incentivo", justificou.
Nesta quinta (24), a prática foi condenada pelo ministro de Comércio e Indústria da África do Sul, Robert Davies. A África do Sul é um dos poucos países que se recusaram a aceitar a cláusula de extensão imposta pela União Européia.
