Um porta-voz do governo dos Estados Unidos classificou como “muito produtiva” a reunião do Mecanismo Bilateral de Consulta com o Brasil, realizada hoje. Ele disse que é a administração Bush tem “todo o interesse e expectativa” na manutenção desse foro de diálogo político com o próximo governo.

“O Brasil é um parceiro importante dos Estados Unidos no hemifsério e queremos desenvolver uma estreita relação de trabalho com o governo do próximo presidente que os brasileiros escolherão democraticamente, neste domingo”, afirmou o funcionário.

Criado no final dos anos 90 para institucionalizar o diálogo bilateral, num momento especialmente positivo das relações entre os dois países, quando Bill Clinton estava na Casa Branca, o mecanismo de consulta prevê encontrps a cada seis meses entre delegações chefiadas pelo subsecretário para assuntos políticos do departamento de Estado e o secretário-geral do Itamaraty.

“As conversas transcorreram num ambiente muto bom”, confirmou o vice-chanceler brasileiro, embaixador Osmar Chofi. “Senti uma boa predisposição da parte dos americanos em relação ao próximo governo do Brasil e expliquei a eles que, com base nos programas dos candidatos, a política externa brasileira terá continuidade, com possíveis ênfases e matizes, o que é natural”, acrescentou Chofi. “Disse a eles que não vejo nenhum desejo no Brasil de se complicar as relações com os EUA.”

A reunião seguiu uma pauta prenegociada e inclui uma troca de pontos de vista sobre os principais itens de interesse bilateral  regional, como o projeto de criação da Área de Livre Comércio das Américas e o combate ao narcotráfico, e international, como a situação no Oriente Médio e a estratégia dos EUA em relação ao Iraque.

Representantes dos dois países disseram que declarações recentes de Luiz Inácio Lula da Silva sobre o presidente Geroge W. Bush e o ministro do comércio exterior, Robert Zoellick, não figuraram nas conversas. Ainda assim, há claramente uma expectativa em Washington de que Lula, uma vez confirmado nas urnas como sucessor de Fernando Henrique Cardoso, adote na política externa a mesma postura que seguiu com sucesso na campanha eleitoral e pela qual promete pautar seu governo – ou seja, manter o debate focalizado nas divergências de políticas, o que é próprio das democracia e entre países amigos, e evitar o baixo nível das críticas pessoais.

De acordo com as mesmas fontes, não se falou tampouco das críticas que Lula fez à adesão do Brasil ao Tratado de Não Proliferação Nuclear, em discurso na Escola Superior de Guerra, no mês passado. As declarações levararam doze deputados republicanos – mobilizados por Constantine Mengues, um latino-americanista da ultradireita – a escrever carta ao presidente George W. Bush pedindo-lhe que mandasse o Departamento de Estado a avaliar as chances de uma mudança da atual política brasileira de não proliferação num governo Lula.

O presidente do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu, escreveu carta à embaixadora dos EUA em Brasília, Donna Hrinak, para esclarecer que as declarações de Lula foram publicadas fora de contexto e informar que o PT apoiou a adesão do Brasil ao TNP e é contrário à proliferação de armas nucelares.

Hoje à tarde, por iniciativa dos EUA, Chofi e o subsecretário político do departamento de Estado, Marc Grosmann, tiveram um encontro com o vice-chanceler do México, Enrique Berruga, para passar em revista temas de interesse comum. Segundo Chofi, a reunião não aponta para a criação de um mecanismo tripartite de consulta.

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