México – Os Estados Unidos querem aumentar sua presença militar no Brasil, visando controlar a Região Amazônica, e, inclusive, a base de lançamentos de foguetes de Alcântara, no Maranhão. A denúncia foi feita ontem no 1.º Encontro Continental Contra a Militarização, em San Cristobal de las Casas, no México. Os representantes brasileiros disseram que a estratégia americana inclui, além do controle de Alcântara, o envolvimento do Exército brasileiro no Plano Colômbia.
O 1.º Encontro Continental contra a Militarização começou anteontem e deve terminar amanhã, com o lançamento da Campanha Continental Contra a Militarização, que se propõe a denunciar, sobretudo, a presença militar dos EUA na América Latina. Nestes dias, os delegados de 25 países das Américas, Europa, Ásia, África e Oriente Médio têm discutido, principalmente, o impacto da militarização em áreas como direitos humanos, meio ambiente, economia e política. É uma espécie de fórum social com tema único e cerca de 600 participantes, ligados a redes de organizações sociais.
O Brasil enviou três comissários: Maria Luísa Mendonça e Luís Bassegio, integrantes da rede Grito dos Excluídos, e Gonzalo Berrón, da Campanha Continental contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). São duas entidades nas quais se destacam a presença do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da chamada ala progressista da Igreja Católica.
Maria Luísa disse que a América Latina é uma região estratégica para os EUA pela riqueza em petróleo, água e biodiversidade. Ela afirmou que os Estados Unidos já possuem bases militares em Porto Rico, Cuba (Guantánamo), Honduras, El Salvador, Costa Rica, Antilhas Holandesas, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Agora, pretendem construir outra base na Terra do Fogo e controlar a Base de Alcântara, no Maranhão. O Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, através do qual o Brasil concede a utilização daquela base pelos Estados Unidos, foi assinado em abril de 2000. O acordo ainda não entrou em vigor porque o Congresso exigiu que passasse por sua aprovação.
Entre outras coisas, o acordo estabelece que o governo brasileiro não pode inspecionar o conteúdo dos materiais recebidos pelos Estados Unidos na base. O interesse dos Estados Unidos pela base se justifica pela sua importância na expansão do controle militar da Região Amazônica. A mídia estadunidense colabora com esse processo. Em outubro do ano passado, o jornal Miami Herald defendeu a necessidade da criação de uma força militar sul-americana para lutar contra a guerrilha na Colômbia e para “lidar com ameaças internas semelhantes no futuro”. Esse comando unificado atuaria ainda na região da Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu.