EUA querem brasileiros no meio do Iraque

Washington – O Departamento de Estado dos EUA informou ontem que o governo americano realizou recentemente “uma ampla rodada de consultas com um grande número de países, inclusive o Brasil, sobre envio de tropas ao Iraque”. Mas, segundo um porta-voz, “as consultas não tiveram nenhum foco particular no Brasil”.

O funcionário não quis esclarecer o local ou a ocasião em que tal sondagem aconteceu. O jornal USA Today noticiou ontem, no meio de uma matéria sobre os esforços americanos para mobilizar uma força internacional para o Iraque, que a administração Bush estaria “cortejando” o Brasil, o Chile e a Argentina, para que os países enviem tropas ao Iraque.

Em Washington, a embaixada brasileira informou que desconhece inteiramente o assunto. A clara oposição do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à decisão dos EUA e da Inglaterra de invadir o Iraque sem mandato da ONU, e a forte impopularidade entre os brasileiros da ocupação do país por tropas dos EUA, sugerem que iniciativas dos EUA para conseguir a cooperação do Brasil no Iraque não serão bem recebidas. Ao mesmo tempo, o Brasil não pode se furtar à discussão do assunto, no momento em que se prepara para voltar, em janeiro, a uma das cadeiras rotativas do Conselho de Segurança. A única referência recente ao tema apareceu em recente artigo publicado pelo Washington Post. Os autores, Robert Gelbard, ex-enviado especial dos EUA à Bósnia, e Ivo Daalder, que trabalhou na assessoria de segurança nacional do governo Clinton, mencionaram o papel positivo desempenhado pelo pequeno contingente de policiais militares que o Brasil mandou para o Timor Leste, sob mandato da ONU, na fase preparatória à independência do país.

Enquanto isso, em Brasília, o governo brasileiro alegou ontem que desconhecia qualquer tipo de gestão por parte dos Estados Unidos em favor do envio de tropas das Forças Armadas ao Iraque. As assessorias de Comunicação Social dos ministérios das Relações Exteriores e da Defesa informaram que não houve nenhum contato nesse sentido entre autoridades dos dois países.

Os rumores de que essa pressão possa surgir causam certa estranheza em altos funcionários do governo. Em especial, porque o País se opôs à invasão do Iraque pela coalizão liderada pelos Estados Unidos e, depois de o fato ter-se consumado, defendeu a retirada rápida dessas tropas do território iraquiano. De tradição pacífica, o Brasil não havia enviado suas tropas nem mesmo durante a Guerra do Golfo, em 1991, quando os Estados Unidos agiram com o aval do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Brasil aceitou enviar soldados para Timor Leste por duas razões: a primeira porque se trata de um país da comunidade lusófona e depois porque o pequeno país da Oceânia não dispunha de condições para garantir a sua recém-conquistada independência.

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