EUA excluem Brasil da reconstrução do Iraque

Washington (EUA) – O Brasil não foi incluído na lista dos países autorizados pelo Pentágono a participar da reconstrução do Iraque, dentro do pacote de US$ 18,6 bilhões em contratos para reconstruir o país. Entre outros países que foram barrados de participar da reconstrução também estão Alemanha, França, Rússia, Israel e China. Da América do Sul, o único país incluído na lista é a Colômbia.

O Pentágono barrou países que não apoiaram a guerra ao Iraque. Esses contratos para a reconstrução do país prevêem concorrências do setor elétrico, serviços públicos, de água e saneamento, habitação, saúde e infra-estrutura de transporte, comunicação e petrolífera.

O documento com a lista dos países foi publicado pelo Pentágono na última sexta-feira e é assinado por Paul Wolfowitz, subsecretário de Defesa dos Estados Unidos. A exclusão de vários países está sendo considerada a mais forte retaliação dos Estados Unidos contra oponentes à guerra ao Iraque.

Ao justificar a medida, o sub-secretário de Defesa americano, Paul Wolfowitz, disse que a decisão “era necessária para a proteção dos interesses essenciais de segurança dos EUA”. Sua decisão foi publicada no site do Escritório de Administração de Projetos, novo grupo do Pentágono que supervisiona a concessão de contratos de reconstrução patrocinados pelos EUA. O documento lista 63 países cujas companhias podem participar da competição por 26 contratos de reconstrução que o Departamento de Defesa e outras agências do governo americano planejam distribuir até 3 de fevereiro. A lista inclui Austrália e Grã-Bretanha, maiores aliados da coalizão no Iraque, assim como Azerbaijão, Palau, Ruanda e Colômbia, entre outros. No memorando, Wolfowitz diz que os parceiros da coalizão “dividem a visão americana de um Iraque livre e estável”. A política não terá vigor para as promessas internacionais de US$ 13 bilhões feitas durante conferência internacional em Madri, em outubro. Mas pouco desse dinheiro já foi recolhido.

Reação

Os países líderes do eixo contrário à guerra do Iraque reagiram desafiadores nesta quarta-feira à decisão dos EUA de impedir que suas empresas disputem contratos de reconstrução do Iraque – medida que pode abrir um novo racha nas já turbulentas relações transatlânticas.

Menos de 24 horas após o anúncio do Pentágono, França, Alemanha, Canadá e Rússia manifestaram sua oposição à medida. O governo alemão disse que não poderia aceitar o fato: “Isso não seria compatível com o espírito de olhar para o futuro, e não para o passado”, disse um porta-voz do chanceler alemão Gerhard Schroeder. O funcionário não disse que medidas a Alemanha pode tomar.

Após encontro em Berlim com seu contraparte alemão, o chanceler da Rússia, Igor Ivanov, afirmou que todas as nações que desejem ajudar o Iraque devem poder fazê-lo.

Num aparente esforço para não azedar ainda mais as disputas diplomáticas com Washington, o presidente Jacques Chirac, o chanceler Dominique de Villepin e outros ministros evitaram responder a perguntas sobre o assunto durante reunião. Mas um porta-voz da chancelaria disse que a França e seus parceiros – uma aparente referência à Alemanha – estavam estudando a legalidade da decisão americana.

O futuro premier do Canadá, por sua vez, afirmou que a decisão americana “era difícil de entender”. Paul Martin, que substitui o premier Jean Chrétien a partir de hoje, argumentou que o Canadá prometeu US$ 230 milhões em ajuda ao Iraque e tem o maior número de tropas no Afeganistão. Apesar dos protestos, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClel-lan, disse considerar “apropriado e razoável” que os contratos principais para a reconstrução do Iraque, custeados pelo contribuinte americano, “sejam para o povo iraquiano e os países que estão trabalhando com os EUA nesta difícil tarefa de ajudar a construir um Iraque livre, democrático e próspero”.

Amorim defende política externa

Trípoli (Líbia) – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, comentou na Líbia a exclusão do Brasil da lista de 63 países elegíveis para competir por contratos na reconstrução do Iraque divulgada pelo Departamento de Defesa americano. Amorim defendeu que a política externa brasileira não deve seguir necessariamente a lógica comercial. Além do Brasil, outros países excluídos são França, Alemanha e Rússia, nações que se opuseram à guerra no Iraque.

“Isso (a lista) é mais um motivo para que o Iraque obtenha a sua soberania”, disse Amorim, ao defender que são os iraquianos que devem decidir sobre seu destino econômico. O ministro também defendeu a lógica de manter uma política externa ativa e ousada. “Quem não tem posição própria e independente não é chamado para nada”, disse.

Multilatelarismo

Amorim também comentou as informações de que o presidente Lula fez críticas aos Estados Unidos durante sua reunião com os membros da Liga Árabe. Sobre o fato de Lula ter dito que os Estados Unidos erraram ao promover a guerra, Amorim disse que esta é uma opinião do Brasil já conhecida.

O chanceler explicou ainda o contexto em que Lula citou o embaixador José Maurício Bustani – embaixador brasileiro em Londres que, durante cinco anos, foi diretor da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq). Durante sua gestão à frente da organização, Bustani entrou em conflito com os Estados Unidos, que supostamente não concordavam com sua política. Na época, Bustani afirmou que foi tirado da organização por causa da pressão brasileira e da falta de apoio do governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo Amorim, Lula utilizou o caso para ilustrar os problemas da falta de multilateralismo atual.

Apesar das afirmações de Lula, Amorim reforçou a idéia de que não há uma confrontação com os americanos. “Agindo dessa forma, o Brasil não põe em risco a sua relação com os Estados Unidos.”

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