No Congresso, que já viu mais de uma CPI acabar em pizza, está em curso um fenômeno político novo: uma comissão parlamentar de inquérito onde o fogo da investigação se apagou antes mesmo de assar a pizza. Esvaziada e vivendo uma crise de ciúmes políticos com a comissão do Senado, a CPI do Apagão Aéreo da Câmara está cada vez mais distante da Infraero e suas suspeitas de superfaturamento, mas terminou a semana passada revelando insólito interesse pela discussão sobre barras de cereal distribuídas a bordo.
Instalada por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) e com hegemonia da base aliada, a comissão tem um assunto vetado. ?Desvios de recursos (na Infraero) não são objeto desta CPI. Se quiserem apurar isso têm de fazer outra comissão?, defende o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos articuladores do governo para não deixar a CPI da Câmara avançar. Junto com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Vaccarezza brecou até o pedido de funcionários do Tribunal de Contas da União para ajudar.
Em um mês de funcionamento, todo o trabalho da comissão da Câmara está centrado na apuração da queda do Boeing da Gol, que matou 154 pessoas e teve sua investigação já concluída pela Polícia Federal. ?Não vai ter nem pizza. É o apagão já no forno, antes de a pizza ficar pronta?, resume Gustavo Fruet (PSDB-PR). ?Para apurar a queda do avião da Gol não precisava criar uma comissão de inquérito.
O rolo compressor usado pelo governo para enterrar a CPI da Câmara acabou desanimando a oposição, que, aos poucos, vai abandonando as reuniões. Antes assíduos, Ivan Valente (PSOL-SP), Solange Amaral (DEM-RJ), Luciana Genro (PSOL-RS) e Carlos Sampaio (PSDB-SP) quase não aparecem, evidenciando o desinteresse geral. ?Essa CPI está se apagando com a Operação Navalha. Além disso, a cúpula da CPI não a deixa ir em frente?, diz Vic Pires Franco (DEM-PA).