O estudo de uma vértebra fossilizada, encontrada há 20 anos, revelou que um titanossauro, espécie de dinossauro herbívoro que habitou o interior paulista há 85 milhões de anos, sofreu uma infecção que pode ter produzido uma anomalia em sua coluna.

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O dinossauro pescoçudo provavelmente andava mancando sobre as quatro patas, segundo o paleontólogo Fabiano Vidoi Iori, um dos autores do estudo. “Esse animal certamente estava debilitado devido à patologia e acreditamos que acabou sendo presa fácil dos carnívoros da época”, disse.

O estudo, pioneiro no Brasil e terceiro no mundo com esse foco, segundo o pesquisador, foi publicado com destaque na edição de janeiro a maio da revista Cretaceous Research (Pesquisa Cretácea), da Elsevier, maior editora de literatura científica e referência mundial em publicações sobre o Cretáceo.

A vértebra estava no Museu de Paleontologia Pedro Candolo, em Uchoa, cidade do interior de São Paulo, e chamou a atenção de Iori quando ele trabalhava, com o biólogo Leonardo Silva Paschoa, na organização do acervo, em 2016. Eles constataram que a peça apresentava uma região anômala, que merecia ser melhor analisada.

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Cientes de que ali havia algum segredo a ser revelado, os dois decidiram recorrer aos paleontólogos Thiago Marinho, do Museu de Peirópolis (MG), e Fernando Barbosa, especialista em paleopatologias da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

As análises mostraram que a anomalia observada no osso foi decorrente de um processo infeccioso que gerou orifícios por onde o pus extravasava. Eles observaram também uma reação óssea de crescimento como tentativa de reparação da lesão e estabilização da coluna vertebral na porção da cauda.

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Segundo Barbosa, a infecção é semelhante à produzida na coluna de humanos atualmente por tuberculose ou brucelose. É dele a tese, encampada pelos colegas, de que o titanossauro mancava. “Quando em vida, esse dinossauro Aeolosaurini provavelmente apresentava um quadro inflamatório relacionado a músculos responsáveis pela movimentação das patas traseiras, o que dificultaria o caminhar, tornando-o manco. Obviamente, no mundo animal, tal restrição do movimento poderia ter sido fatal, já que o indivíduo com essas condições teria enorme dificuldades de obter água, alimentos e se defender dos ataques de predadores”, disse.

Barbosa defende a continuidade das pesquisas. “São estudos importantes para entendermos quais as condições de saúde a que determinados animais extintos estavam submetidos e como essas doenças afetavam populações pretéritas. Com a continuidade, será possível entender também como algumas doenças que afetam a população humana atualmente surgiram e evoluíram”, disse.

Registro inédito

Conforme Iori, só agora, no Brasil, as pesquisas avançam além da simples classificação dos fósseis. “Estamos diante de um registro inédito na paleontologia brasileira, pois se trata do primeiro caso de diagnose deste tipo de patologia em dinossauros saurópodes no País e do terceiro no mundo”, disse. O artigo publicado na Cretaceous Research tem autoria de Barbosa, Marinho, Paschoa e Iori.