Os resultados do maior estudo brasileiro feito até o momento envolvendo o uso da hidroxicloroquina no contexto da covid-19 foram divulgados nesta quinta-feira (23) na revista científica New England Journal of Medicine (NEJM). Lembrando que o governo tem um estoque parado de 4 milhões de comprimidos de cloroquina.
Ao analisarem 667 pacientes, divididos entre 55 hospitais do país, os pesquisadores da Coalizão COVID Brasil verificaram que a hidroxicloroquina não interferiu significativamente na recuperação de pacientes com sintomas leves a moderados da doença. Para chegar a essa conclusão, os participantes foram divididos, de forma randomizada (ou aleatoriamente), em três grupos:
*Grupo que recebeu a hidroxicloroquina em conjunto com o antibiótico azitromicina;
*Grupo que recebeu apenas a hidroxicloroquina;
*Grupo que recebeu apenas o tratamento padrão.
+Leia mais! Curitiba tem quase 7 mil pessoas com coronavírus em fase ativa, podendo transmitir a doença
Após 15 dias de tratamento, a quantidade de pessoas que puderam ir para casa “sem limitações respiratórias” foi muito semelhante entre os grupos: 69% daqueles que receberam as duas medicações; 64% dos que receberam apenas a hidroxicloroquina e 68% dos que não receberam nenhum dos medicamentos listados. Da mesma forma, o percentual de óbitos se manteve em 3% nos três casos.
Na conclusão, os autores destacam que: “entre pacientes hospitalizados com Covid-19 leve a moderada, o uso da hidroxicloroquina, sozinha ou com azitromicina, não melhorou o estado clínico em 15 dias, em comparação ao tratamento padrão”.
Fazem parte do Coalizão COVID Brasil os hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa, além do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet). Além desse estudo com a hidroxicloroquina, o grupo também está conduzindo outras oito pesquisas. Uma delas avalia a medicação em casos ambulatoriais – pessoas com sintomas leves e não internadas.
Grupos de médicos no Brasil e no mundo têm feito uso desses medicamentos nas primeiras fases do tratamento da doença e se baseiam em estudos empíricos para pleitear sua adoção em protocolos de saúde pública.
+Viu essa? As sequelas depois do coronavírus; doença pode comprometer pulmão, rins e coração
Riscos
Apesar de não perceberem nenhum benefício do medicamento no desfecho da doença, os pesquisadores verificaram que os pacientes que fizeram uso da hidroxicloroquina apresentavam, com mais frequência:
Alterações nos exames de eletrocardiograma, com o aumento do intervalo QT, que caracteriza maior risco para arritmias.
Alterações em exames que poderiam indicar lesão hepática.