O consumo frequente de álcool está associado a um risco mais reduzido de diabete em homens e mulheres, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas da Dinamarca. A pesquisa teve seus resultados publicados nesta quinta-feira, 27, na revista científica Diabetologia, da Associação Europeia de Estudos de Diabete.

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De acordo com os autores da pesquisa, estudos anteriores já sugeriam de forma consistente que o consumo leve ou moderado de álcool está associado a um risco mais baixo de diabete em comparação com a abstenção, enquanto o consumo exagerado está ligado a um risco maior ou igual ao da abstenção.

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Na nova pesquisa, uma equipe de cientistas liderada por Janne Tolstrup, da Universidade do Sul da Dinamarca, examinou os efeitos da frequência do consumo de álcool sobre o risco de desenvolver diabete, considerando também a associação com tipos específicos de bebida.

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“Os resultados podem parecer contraintuitivos, porque as pessoas sabem que a bebida alcoólica é ruim para os diabéticos e, portanto, tendem a associar o uso de álcool com um maior risco de desenvolver diabete no futuro”, disse Janne à reportagem. “Mas a associação entre um consumo moderado de álcool e um risco menor de diabete já havia sido sugerida por inúmeros estudos anteriores.”

Segundo Janne, os resultados mostram uma relação não linear entre o consumo de álcool e o risco de diabete.

“Os que apresentaram menor risco de diabete, em comparação aos abstêmios, foram aqueles que bebem moderadamente com frequência”, disse Janne. “O excesso de álcool, por outro lado, não reduziu os riscos, aumentando-os em alguns casos.”

A pesquisadora afirmou, no entanto, que será preciso realizar mais estudos para entender o mecanismo pelo qual uma ingestão moderada de álcool reduz os riscos de diabete.

“A frequência do consumo tem certamente um papel importante na associação entre álcool e redução de risco de diabete. Mas não sabemos ainda como se dá esse mecanismo, do ponto de vista biológico”, explicou Janne. “Uma hipótese é de que talvez uma frequência moderada de consumo do álcool tenha um papel na regulação do sistema de insulina do organismo.”

Categorias

O estudo envolveu 70.551 participantes da Pesquisa Dinamarquesa de Exame de Saúde, realizada em 2007 e 2008, na qual dinamarqueses de mais de 18 anos completaram um questionário que incluía fatores ligados à saúde e estilo de vida. Foram excluídos previamente aqueles já diagnosticados com diabete e as mulheres grávidas – que frequentemente mudam os hábitos de consumo de álcool. Os participantes foram acompanhados até 2012.

A partir dos questionários, foram estabelecidos os padrões de consumo de álcool em diversas categorias. Os abstêmios foram divididos entre os que já beberam no passado e os que nunca beberam. Já os consumidores de álcool foram divididos por frequência de consumo: menos de um dia por semana, de um a dois dias por semana, de três a quatro dias por semana e de cinco a sete dias por semana.

A frequência de consumo compulsivo – quando a pessoa toma mais de cinco doses em uma ocasião – foi dividida nas categorias “nunca”, “menos de uma vez por semana” e “mais de uma vez por semana.

O consumo de tipos específicos de bebidas – vinho, cerveja e destilados – foi dividido nas categorias “menos de uma dose por semana”, “1 a 6 doses por semana” e “mais de 7 doses por semana”, para mulheres; e “7 a 13 doses por semana” e “mais de 14 doses por semana”, para homens.

Foram calculadas as médias de quantidade semanal de álcool tanto para bebidas em geral como para tipos específicos de bebidas. Os participantes também responderam se seu consumo de álcool havia diminuído, aumentado ou permanecido estável nos últimos cinco anos.

Os dados foram ajustados estatisticamente para idade, sexo, nível educacional, índice de massa corporal (IMC), uso de tabaco, dieta, tempo de lazer e histórico familiar de hipertensão e diabete. Durante os cinco anos de acompanhamento, 859 homens e 887 mulheres desenvolveram diabete.

Quantidade e frequência

Em termos de quantidade semanal de álcool, os resultados foram semelhantes aos de estudos anteriores: o risco mais baixo de desenvolver diabete foi registrado entre os indivíduos que consumem quantidades moderadas de álcool.

Homens que consomem 14 doses por semana tiveram um risco de diabete 43% mais baixo em comparação aos abstêmios. As mulheres que consomem nove doses por semana tiveram um risco 58% mais baixo em relação às mulheres que não bebem nenhuma gota.

Em termos de frequência, os dados revelaram que o consumo de álcool de três a quatro dias por semana correspondeu ao menor risco de diabete – 27% mais baixo em homens e 32% mais baixo em mulheres, em comparação aos indivíduos que bebem menos de um dia por semana.

De acordo com os autores, o estudo não encontrou evidências claras de uma associação entre consumo compulsivo de álcool e risco de diabete, o que eles atribuem ao baixo poder estatístico dos dados, já que poucos participantes relataram consumo compulsivo.

Tipos de bebidas

No que diz respeito ao tipo de bebida, o consumo moderado a alto de vinho foi associado ao menor risco de diabete, em consonância com estudos anteriores. Os autores sugerem que isso pode ser atribuído aos efeitos benéficos de polifenóis existentes no vinho sobre o equilíbrio dos níveis de açúcar no sangue, dando ao vinho tinto um potencial especial de proteção.

Homem e mulheres que consumiram sete ou mais doses de vinho por semana tiveram um risco de 25% a 30% mais baixo de diabete em comparação aos que tomaram menos de uma dose por semana.

Consumir entre uma e seis cervejas por semana resultou em um risco 21% mais baixo de diabete em homens, em comparação com os que tomam menos de uma cerveja por semana. A cerveja não mostrou nenhuma relação com o risco de diabete em mulheres.

Os autores não encontraram nenhuma associação estatisticamente considerável entre a média semanal de doses de destilados e diabete em homens. Entre as mulheres, no entanto, tomar sete ou mais doses semanais de destilado está associado a um aumento de 83% do risco de diabete, em comparação com as mulheres que consumiram menos de uma dose por semana.