Cientistas brasileiros participaram de um estudo internacional que descobriu uma nova forma de monitorar pacientes com sepse – conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por uma infecção. Os resultados da pesquisa, publicados na revista Science Translational Medicine, também sugerem uma terapia: a administração da proteína hemopexina.
A sepse é responsável pela ocupação de 25% dos leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no País, constituindo também a principal causa de morte nestas unidades – a doença mata 220 mil pessoas por ano no Brasil.
Os microrganismos costumam exaurir o sistema imunológico provocando uma inflamação generalizada. A resposta – mais do que a ação dos micróbios – piora o quadro clínico com queda da pressão arterial e falência de órgãos vitais. Ao lado de portugueses e norte-americanos, os brasileiros tentavam desvendar os mecanismos relacionados a uma reação tão desastrada.
A equipe do cientista português Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras (Portugal), descobriu um culpado inesperado para a resposta descontrolada do organismo: a hemoglobina presente nos glóbulos vermelhos. A hemoglobina é a substância responsável por transportar o oxigênio do pulmão para os órgãos vitais por meio do sangue. Ela se associa a outras moléculas conhecidas como grupos hemes, que possuem um átomo de ferro e funcionam como anzóis para segurar moléculas de oxigênio.
Durante a infecção, os glóbulos vermelhos podem arrebentar e liberar a hemoglobina contida dentro deles, processo conhecido como hemólise. Solta, a hemoglobina transforma-se em uma ameaça. Em primeiro lugar, piora o processo inflamatório. Depois, perde os grupos hemes, que se tornam fonte de nutriente – ferro – para as bactérias e, além disso, são tóxicos para as células, levando a disfunções em diversos órgãos e, eventualmente, à morte. O artigo da Science Translational Medicine descreve a ação tóxica dos grupos hemes.