Depois de 15 dias internado, quase todos em unidade de terapia intensiva, o estudante Lucas Cambuí Martins, de 17 anos, morador de Santa Cruz do Rio Pardo, interior de São Paulo, acredita que é um sobrevivente da febre amarela. “Estou aqui por um milagre, só por Deus, pois achei que ia morrer”, disse ao Estado.
Lucas teve dores no corpo, febre, vômitos compulsivos e ficou com o corpo todo amarelado. “Houve uma hora, na UTI, que eu me entreguei. Estava inchado, largado, não conseguia sentir nem pensar direito. Achei que a febre amarela já tinha me levado.”
O rapaz apresentou sintomas depois de percorrer de moto, com o pai, no dia 15 de janeiro, uma trilha em matas da zona rural, na região do Colégio Agrícola. “Eu já tinha visto um macaco morto lá dias antes, mas nem atinava com febre amarela e não era vacinado. Naquele dia, a carcaça ainda estava lá. Paramos a moto perto dela. Acho que foi nessa hora que o mosquito me picou.”
Ele conta que os sintomas começaram a aparecer já no dia seguinte, quando trabalhava na oficina de um amigo. “Fiz um pouco de esforço com peças e senti cansaço. Logo veio um frio, um tremor, aí fui até a farmácia na esquina e medi a febre, estava com quase 38°C.”
Lucas seguiu para casa, almoçou e descansava quando voltou a ter febre. “Fui até uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e acharam que era a garganta. Tomei uma injeção e retornei para casa. Mas, daí em diante, fui só piorando.”
Segundo ele, os médicos chegaram a falar em dengue, mas ninguém mencionou febre amarela. “Quinta, sexta, sábado e domingo, fomos todos os dias à UPA, eu sempre com febre e sempre piorando. Na segunda-feira, resolveram me internar na Santa Casa.”
Família. A mãe de Lucas, a vendedora Ângela Maria Cambuí Martins, de 40 anos, assume a narrativa para contar o drama que ela e o marido viveram vendo o filho único sendo consumido pela doença. “Fazia dias que ele estava sem comer. Começou a bater um desespero. Os médicos não sabiam o que era. Ainda não se falava em febre amarela na cidade. O médico pediu um ultrassom e viu que o fígado estava inchado e transferiu o Lucas para a UTI. Como o hospital não tinha muitos recursos, tentamos transferência para Botucatu ou Marília, mas não havia vagas.”
Para aumentar o desespero, Ângela ouviu dos médicos que ele precisava ser transferido com urgência, pois tinha pouca chance de sobreviver. “Recorremos a um amigo que conseguiu a transferência para o Hospital das Clínicas.”
Na capital paulista, os médicos tinham diagnóstico: hepatite C hemorrágica ou febre amarela. “Foi a primeira vez que mencionaram a doença. Meu filho estava com o fígado quase perdido. Os dias seguintes foram de oração e desespero. Em 3 de fevereiro, o Lucas saiu da UTI e teve alta. Foi, sim, milagre de Deus”, diz a mãe.
O pai, o supervisor Edivaldo Miranda Martins, relata que o diagnóstico de febre amarela demorou para ser dado.
“Embora a doença esteja por aí, acho que faltam especialistas para cuidar dos doentes.” O resultado do exame, confirmando a febre amarela, em Santa Cruz, saiu uma semana depois da alta. As populações da zona rural e do entorno da casa da família foram vacinadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo