Brasília – O governo do Brasil vai sofrer cada vez mais pressão internacional, nas próximas semanas, para permitir inspeções mais detalhadas de seu programa de energia nuclear. Um indício foi reportagem publicada domingo pelo Washington Post, sobre o desenvolvimento nuclear no Brasil.
A Agência Internacional de Energia Atômica (Iaea) e o Brasil, há meses, estão tendo atritos em relação às inspeções de uma planta de enriquecimento de urânio no Estado do Rio de Janeiro. Inspetores do Iaea puderam ver partes da planta, mas não tiveram “acesso visual” a outras seções. É importante para a Iaea resolver a discórdia com o Brasil, particularmente para seu trabalho no Irã. O país está sendo pressionado a parar todos os aspectos de seu programa de enriquecimento de urânio e a abrir suas instalações em bases militares.
O Brasil opera três usinas nucleares há mais de três décadas, em Angra dos Reis, mas apenas em 2002 dominou por completo a tecnologia de enriquecimento do urânio. O país espera desenvolver a capacidade de produzir urânio enriquecido para uso comercial (não militar) e exportar esse material a partir de 2014. Apesar da Iaea estar menos preocupada com um possível programa de armas no Brasil, os problemas de acesso que está enfrentando prejudicam sua capacidade de convencer o Irã a cooperar. Teerã foi pressionada a assinar outro protocolo, além do Tratado de Não-Proliferação, permitindo inspeções mais intrusivas, que o Brasil rejeita.
As acusações ao governo brasileiro publicadas na primeira página de sua edição deste domingo, do jornal americano The Washington Post, que o Brasil impede inspeção em unidade de beneficiamento de urânio, em Resende, foram rebatidas pelo governo brasileiro. Para o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, é inaceitável qualquer tipo de especulação que ponha em dúvida as intenções pacíficas do projeto nuclear brasileiro.
O presidente do Senado, senador José Sarney (PMDB-AP), afirmou ontem, que o País não pode aceitar a pressão dos Estados Unidos para que assine com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) um protocolo adicional sobre inspeções em instalações nucleares. “Não podemos aceitar nenhuma semelhança com o tratamento dado à Coréia do Norte e ao Irã, (pois) esses são países que têm tradição em armamento nuclear, que o Brasil não tem” afirmou o senador.
O líder do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio (AM), também defendeu ontem a preservação do segredo atômico pelo Brasil.