A chamada “esquerda do PT” irá bater forte no governo Lula na próxima reunião do Diretório Nacional do partido, agendada para dias 13 e 14 deste mês. Na ocasião, além de decidir sobre a possível expulsão dos congressistas “radicais”, a cúpula da sigla fará um balanço do primeiro ano de governo e discutirá as diretrizes para 2004.

Para o encontro, as variadas correntes do partido elaboraram “teses” sobre o primeiro ano da gestão Lula. Os textos das análises, publicados no site do partido, expõem uma série de críticas à condução política e econômica.

“O primeiro ano do governo Lula foi marcado pela construção de um leque de alianças que inclui amplamente setores burgueses, por uma política econômica fundamentalmente conservadora, e, de outro lado, por avanços limitados na promoção de mudanças”, diz o texto da tendência Democracia Socialista (cerca de 10% dos filiados), da qual fazem parte o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e a senadora Heloísa Helena (AL), ameaçada de expulsão da sigla.

E continua: “Naturalmente, tanto a continuidade com o governo FHC quanto a subordinação ao modelo de ajuste do FMI [Fundo Monetário Internacional] estão em total contradição com os documentos da campanha eleitoral de 2002”.

Reforma trabalhista

Do outro lado, tendências que formam o Campo Majoritário (grupo de tendências alinhadas com a cúpula do partido) também encaminharam teses comemorando as conquistas do governo neste ano e defendendo uma reforma trabalhista que mantenha os atuais direitos dos trabalhadores.

Segundo o documento do grupo, a reforma trabalhista deve tomar como base as conclusões e a dinâmica do Fórum Nacional do Trabalho. “O PT deve defender a preservação dos direitos básicos como repouso semanal, décimo terceiro salário, férias, licença maternidade e Fundo de Garantia”, diz o documento, que entre outros petistas, é assinado pelo ministro da Previdência, Ricardo Berzoini.

Natal Zero

A tendência O Trabalho (detém 2% dos filiados do PT), encabeçada por Markus Sokol, membro do Diretório Nacional, também enviou à direção do PT uma carta intitulada: “É urgente um autêntico governo do PT”, com críticas pesadas ao governo.

“Não há reforma agrária, o desemprego bate recordes e cai a renda dos assalariados, enquanto continua a deterioração dos serviços públicos. O povo brasileiro se prepara para um ?Natal Zero? em 2003”, diz o manifesto.

Nos textos de ambas também sobram protestos contra a condução do processo de negociação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), ao acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), ao processo de reforma agrária e às reformas.

Integrantes da Articulação de Esquerda (10% dos filiados), como Valter Pomar (secretário de Cultura, Esporte e Turismo de Campinas), Marlene Rocha (da Executiva Nacional), entre outros também assinam um documento similar. “A política econômica adotada pelo governo federal, até o momento, vem sendo dominada não pela transição, mas sim pelo continuísmo.”

Nanicos

Outras correntes menores da legenda, como a Brasil Socialista, também dispararam contra o governo: “O sinal vermelho acendeu justamente no final de julho, mês anunciado pelo presidente Lula como o do ?espetáculo do crescimento? e que passou à História do Brasil como o do agravamento da crise”.

A Brasil Socialista ainda faz críticas diretas ao ministério de Lula. “Consolida-se em nosso governo a estratégia do grande capital, que controla postos-chaves na máquina governamental [Furlan, ministro do Desenvolvimento da Indústria e Comércio; Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura, e Henrique Meireles, presidente do Banco Central] e dá o tom da política econômica e da política de Estado.”

Diz a tese da TM (Tendência Marxista): “Um espectro ronda o PT, o de sua dissolução como sujeito político, como força motriz que deve se retro-alimentar das energias emanadas da sociedade civil democrática e das referências estratégicas do mundo do trabalho”.

A Força Socialista, do prefeito de Belém (PA), Edimilson Rodrigues, e dos deputados Nelson Pellegrino (BA) e Ivan Valente (SP) e Chico Alencar (RJ), também deverá protestar.

Reunião será em Brasília

O PT decidiu ontem transferir de São Paulo para Brasília a reunião do Diretório Nacional, agendada para os próximos dias 13 e 14. No encontro, serão discutidos o primeiro ano do governo Lula, o processo de expulsão dos radicais da sigla e as eleições municipais de 2004.

O partido informa que a transferência do local se dá em decorrência dos trabalhos do Congresso durante o final de semana. Vários deputados e senadores petistas são membros do diretório, além de ministros.

Segundo a Secretaria de Organização do PT, foram registrados oito textos, que serão apresentados e discutidos durante a reunião. Entre os membros do Diretório Nacional do partido que devem votar na decisão estão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ministros José Dirceu (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Previdência), Humberto Costa (Saúde), Cristovam Buarque (Educação), Benedita da Silva (Assistência Social), Luiz Dulci (Secretária-geral da Presidência), Olívio Dutra (Cidades), Waldir Pires (Controladoria-Geral da União), Marina Silva (Meio Ambiente) e Nilmário Miranda (Secretaria de Direitos Humanos). Os senadores Aloizio Mercadante (SP) e Eduardo Suplicy (SP), e o presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (SP) também integram o Diretório.

continua após a publicidade

continua após a publicidade