São Paulo – Menos de 24 horas após a festa de 25 anos do PT, realizada ontem em Recife, a esquerda petista se reúne neste domingo no Clube Trasmontano, em São Paulo, a menos de 200 metros da sede nacional do partido, no centro da capital paulista, para oficializar o racha interno da sigla. Durante o seminário ?Dois anos de governo Lula -25 anos do PT – Os rumos da esquerda?, a esquerda do PT deverá anunciar a criação de um bloco parlamentar independente, que já conta com 15 deputados federais.
Além disso, a esquerda petista pretende aprovar nesse seminário um texto com 13 pontos que, segundo os petistas, recuperam as bandeiras e métodos históricos do partido. O foco principal será a política econômica do governo Lula, na qual a esquerda petista pede mudanças. ?Vamos tirar a posição de o PT não ser correia de transmissão do governo. Os métodos do governo não respeitam a bancada nem o partido. Não existe canal de discussão e crítica e é isso o que estamos criando, já que a cúpula partidária simplesmente carimba as decisões do governo?, disse o deputado Ivan Valente (SP), um dos coordenadores do seminário.
Segundo Valente, a idéia do seminário é fazer um contraponto às comemorações oficiais dos 25 anos do partido. ?A cúpula acenou com a realização de um seminário pluralista para comemorar os 25 anos do partido, mas simplesmente pulverizou a idéia e esvaziou o debate?, disse Valente. O deputado se refere ao fato de o PT ter alterado a forma do seminário que seria o ponto alto das comemorações. Inicialmente marcado para acontecer em São Paulo entre esta segunda-feira e a próxima quinta-feira, o seminário da cúpula, que chegou a ser classificado de ?nitroglicerina pura? pelo ministro José Dirceu (Casa Civil), devido ao potencial crítico dos temas, agora acontecerá em cinco capitais, de forma pulverizada.
A explicação da direção é que, assim, os debates poderão ser vistos por mais gente. Para a esquerda do partido, o objetivo é esvaziar as discussões. Para analisar os dois anos de governo Lula e apontar rumos do PT para o futuro, a esquerda petista chamou alguns integrantes da ala radical para o seminário, como João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST); Luzianne Lins, prefeita de Fortaleza; o jurista Fábio Konder Comparato; os economistas Paulo Nogueira Batista Jr. e Emir Sader; e o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio.
A expectativa dos organizadores é reunir pelo menos mil pessoas no Transmontano. Além da política econômica do governo, o documento da esquerda deve pedir a garantia de direitos trabalhistas, autonomia do partido em relação ao governo e valorização da ética. Um texto que circula na internet diz que o seminário deve refletir a insatisfação com os rumos atuais do governo. O chamamento defende uma ?virada radical na atual política? e a ?mobilização da militância petista, pressionando por mudanças, que dialoguem com a esperança que empolgou o povo brasileiro em 2002?.
A aglutinação da esquerda do partido em torno de temas que o Palácio do Planalto tem feito um grande esforço para esquecer, é apenas mais um problema para o governo Lula, que já não consegue controlar o seu partido, as bases aliadas e tem sofrido constantes derrotas no Congresso, principalmente na Câmara Federal. Todos estes movimentos se configuram como nuvens cinzentas no projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se reeleger no ano que vem.