Esquerda do PT acirra cobranças do governo

Brasília (AG) – Antes de enfrentar o embate com tucanos e pefelistas a partir do segundo semestre de 2005 para tentar garantir a reeleição em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de encarar uma turma que já começa a fazer muito barulho dentro e fora do PT para cobrar mudanças nas políticas econômica e social do governo.

Os integrantes das principais correntes de esquerda do PT não representam mais do que 40% das forças do partido, mas renovaram seus argumentos a partir do resultado da eleição municipal.

Para juntar os cacos até 2006, a repactuação da relação do governo com suas bases e com os esquerdistas exigirá um trabalho árduo do presidente do PT, José Genoino, e da cúpula governista, principalmente do chefe da Casa Civil, José Dirceu. A disputa de decisões partidárias, no voto, entre os governistas do Campo Majoritário e os esquerdistas acontecerá na reunião do diretório nacional, dias 20 e 21, e na reunião dos dias 29 e 30 com os 411 prefeitos eleitos ou reeleitos.

Habilidade

Pont pede mudanças no ajuste fiscal

Prefeitos eleitos se reúnem

Reforma

Em mais um movimento em direção à aprovação do projeto de reforma política, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, participa de debate na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Cãmara Federal nesta terça-feira (dia 16), sobre o sistema político-eleitoral brasileiro.

Neste fim de semana, a executiva estadual do PT no Paraná promoveu um seminário para os 29 prefeitos e 28 vices eleitos nas últimas eleições. O encontro foi realizado no Hotel Cristal, em Londrina, com a presença do presidente do diretório regional, deputado André Vargas, do deputado federal Paulo Bernardo, dos prefeitos Nedson Micheleti (Londrina), Aparecido Spada (Sarandi), Marcos Pescador (Vera Cruz do Oeste) e convidados especiais.

Segundo o secretário de organização, Florisvaldo Souza, o seminário teve como objetivo principal repassar aos 29 prefeitos petistas recém-eleitos informações sobre orçamento municipal, relacionamento com a Câmara e com a própria sociedade, além de propiciar a discussão de assuntos relevantes da gestão municipal.

O trabalho do seminário foi conduzido por meio de mesas de debates, integradas por prefeitos, parlamentares e membros da executiva estadual com experiência em vários setores da administração. Segundo Souza, o encontro reafirma o trabalho de acompanhamento dos mandatos dos prefeitos e vices que o partido realiza de modo permanente, "com a finalidade de ajudar os quadros que foram eleitos a começar os mandatos bem informados sobre suas responsabilidades".

Brasília

"Não pretendemos sair do PT. Mas vamos fazer uma acirrada disputa na convenção nacional para aprovar decisões partidárias que impliquem a mudança de visão do ajuste fiscal, por exemplo. Vamos renovar a direção partidária e isso terá de refletir num partido mais autônomo em relação ao governo.

Do grupo dos independentes, o deputado Chico Alencar (RJ) alerta que o PT e o governo Lula terão de dar uma guinada para recuperar o perfil de partido da ética e da massa crítica, sob risco de fracassar a reeleição:

"Há no PT aqueles que fazem uma leitura triunfalista desta eleição, mas as correntes mais críticas, à esquerda, enxergam sinais preocupantes. O PT, que administrava nas capitais um orçamento de R$ 15 bilhões, caiu para cerca de R$ 5 bilhões. E o PSDB, que administrava R$ 1 bilhão, subiu para R$ 12 bilhões. E a profissionalização dos militantes tirou a alma do PT".

Defendendo a idéia de que o governo tem de ousar e ter mais criatividade nas políticas econômica e social a partir de 2005, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, do Campo Majoritário, pede calma: "Lula está tão preocupado quanto nós com 2006. As correntes minoritárias precisam ter juízo e entender que está em jogo um projeto nacional. Temos que estar unidos ao redor do presidente em 2006 para garantir a preservação desse projeto".

(AG) – Muito magoado com as cúpulas governista e petista, o deputado estadual Raul Pont (Democracia Socialista), derrotado em Porto Alegre, atribui parte do insucesso do partido à expulsão da deputada Luciana Genro do PT. Outra parte ele atribui à reforma da Previdência e ao baixo reajuste do salário mínimo. Cobrando mudanças, Pont diz que defender fidelidade às bandeiras históricas do PT virou defeito:

Embora Genoino diga que as correntes estão pacificadas, vai ter de exibir muito jogo de cintura para conquistar os descontentes e derrotados neste ano. "Não vamos discutir crises na reunião com os prefeitos eleitos. A conversa com os derrotados vai ser depois. O PT tem que pensar em 2006 e deixar de olhar o passado. Alguns companheiros insistem em achar culpados, e não é por aí", diz Genoino, informando que o PT e o governo vão centrar atenções para aperfeiçoar a área social, distribuir renda, melhorar as políticas públicas, olhar os interesses da classe média, profissionalizar o embate político com os rivais e trabalhar as alianças.

Da tendência Ação Popular Socialista, o prefeito de Belém por dois mandatos, Edmilson Rodrigues, não conseguiu fazer a senadora Ana Júlia sua sucessora. Ele diz que líderes do Campo Majoritário já indicaram que é preciso voltar a escutar as tendências de esquerda e retomar bandeiras históricas do PT. "A base do PT é rebelde e quer mudanças. Se continuar tudo como está, 2006 pode repetir 2004, em que o governo tinha uma ótima avaliação, mas o PT saiu enfraquecido na disputa com o PSDB. Lula pode até se reeleger, mas o PT vai se enfraquecer mais", alerta Edmilson.

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