Especialistas criticam infantilização da população idosa

Especialistas reunidos no 17.º Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, que terminou ontem em Belo Horizonte, defenderam o fim da infantilização e da estigmatização dos idosos como grupo homogêneo, que gosta das mesmas coisas, necessariamente frágil e “bonzinho”, com pouca autonomia.

“O estigma ainda é muito grande. Defende-se que todo o idoso tem de fazer atividade física e viajar. O fato é que às vezes ele não quer fazer, não gosta. É preciso ver as características de cada um”, afirmou a coordenadora da área de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, Luíza Maia.

“A mídia também coloca o velho sempre como um pobrezinho, demenciado, bonzinho. Mas há idosos de todos os tipos. Bonzinhos e cafajestes”, diz Luíza, que não vê com simpatia personagens televisivos como o casal de idosos representado pelos atores Cleide Yáconis e Leonardo Vilar na novela global “Passione”, ambos confusos, isolados em uma mansão, perdidos nas discussões da família. “O idoso é um ser integral, tem de ser o protagonista da própria vida. Quando ele está em uma cadeira de rodas, pode não ter independência, mas sim autonomia.”

Participantes do congresso também criticaram programas públicos que apenas investem em “bailões”, lazer e concursos de beleza, sem ver outras dimensões do envelhecer, como atenção especializada de saúde, renda, educação e habitação. Até 2050, o Brasil deverá ter um terço da população idosa, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“É comum a política dos bailes. E, enquanto isso, não faz nada que diga respeito aos direitos do idoso”, criticou o carioca Alexandre Kalache, que dirigiu o programa de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde entre 1994 e 2008 e hoje é consultor para a área da prefeitura de Nova York. Kalache era um dos especialistas que durante o congresso defendia o acúmulo de capital financeiro e de saúde como única forma de envelhecer bem.

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