De olho na importância da redação na nota final do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), escolas particulares usam estratégias diversas para deixar os alunos mais afiados na escrita. Entre as apostas estão correções feitas por especialistas de fora do colégio, aulas extras, análises estatísticas de desempenho e até concursos de textos. A correção das redações do Enem, segundo parte dos especialistas, tem ficado mais rígida ano a ano.
O Colégio Pentágono, em Perdizes, zona oeste da capital, é um dos que contrata corretores externos para tornar a análise mais próxima do que acontece no exame real. “Quando o próprio professor avalia, há um vínculo afetivo com o aluno. Se chamamos uma pessoa de fora, a correção fica mais isenta”, explica o diretor pedagógico, Cláudio Giardino.
No Enem 2014, o Pentágono conseguiu a maior média em redação da cidade, com 804,8 pontos, de mil possíveis.
Os corretores externos devolvem as provas comentadas aos professores da escola, que discutem os erros com os estudantes. “Faz a gente pensar bastante na maturidade do próprio texto”, comenta André Peron, de 16 anos, aluno que conclui o ensino médio em 2015.
“É diferente de Matemática, em que o resultado é o mesmo para todas as provas. Na redação, tem de ser com uma pegada nossa e também ser entendido pelo outro”, diz o adolescente.
A correção externa de redações é feita na escola desde o 9.º ano do ensino fundamental. Cerca de 75% dos textos passam pela análise de especialistas de fora da escola.
Na preparação, a escola distribui materiais e dá dicas sobre as características de cada prova. Uma das principais diferenças do Enem em relação aos vestibulares mais tradicionais – como a Fuvest, da Universidade de São Paulo (USP) – é a exigência de uma proposta de intervenção social sobre o tema sugerido para o texto. Essa parte costuma ser a mais complicada para os alunos.
O sucesso na redação do Enem, para o colégio, reflete o forte trabalho com escrita bem antes da época do vestibular. “Nosso objetivo não é só preparar para a prova”, afirma Thais Viveiros, coordenadora de Redação. “O significado dessa proposta (de intervenção) é construído coletivamente. Acreditamos na autoria do aluno, na formação de repertório e no desenvolvimento do senso crítico.”
Revisão constante
A primeira versão do texto nunca é suficiente nas aulas do Colégio Santo Américo, no Morumbi, zona sul. Em uma semana, são sugeridos tema e formato para a redação e, na outra, o trabalho é devolvido com correções.
“Sempre reescrevemos o texto. Essa parte é a mais importante para enxergarmos e pensarmos bem sobre nossos erros. Vemos se a ligação entre os parágrafos estava boa, se podíamos usar conectivos melhores e corrigir”, diz Felipe Manente, de 16 anos, do 2.º ano do ensino médio.
No Santo Américo, 7.º lugar na nota de redação no Enem 2014, os testes também passam por corretores externos. “Para os alunos mais novos, o número de versões do texto pode ser até maior”, afirma o coordenador pedagógico José Ruy Lozano. “A nota da versão corrigida compõe o resultado final.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.